Songwriting é um termo amplamente usado no cenário musical, especialmente no exterior, mas que ainda desperta dúvidas entre muitos compositores. O que realmente significa? Em que ele se diferencia da composição tradicional? Quais são seus fundamentos e como começar a praticá-lo? Neste artigo, exploraremos essas questões para desmistificar o universo do songwriting e ajudar você a dar seus primeiros passos nessa arte apaixonante.
Songwriting: A Arte de Escrever Canções
De forma simples, songwriting é o processo de criar canções. O termo é amplamente usado para descrever a composição de músicas populares, enquanto o termo “composição” é frequentemente associado a músicas instrumentais ou eruditas.
Por Que Usar “Songwriting” e Não “Composição”?
A escolha do termo não é apenas uma questão de linguagem, mas reflete diferenças culturais e práticas:
Enfoque Popular: Songwriting é geralmente usado para descrever o ato de compor canções populares, que incluem melodia, harmonia e letra, enquanto “composição” tem uma conotação mais ampla, frequentemente associada à música erudita.
Reconhecimento Internacional: Nos países de língua inglesa, songwriting é uma disciplina amplamente estudada, com uma vasta literatura e práticas estabelecidas.
Abordagem Artística Diferenciada: O songwriting enfatiza a conexão emocional e narrativa com o público, enquanto a composição erudita pode ter objetivos mais abstratos ou acadêmicos.
Os Fundamentos do Songwriting
Songwriting não é uma ciência exata. Ele se assemelha mais a uma arte em constante evolução, guiada pela subjetividade, experimentação e criatividade. No entanto, existem três pilares fundamentais para começar: melodia, harmonia e letra.
Melodia: O Coração da Canção
A melodia é a alma de uma música. É a sequência de notas que você canta ou assobia, aquela parte da canção que permanece na mente do ouvinte.
Por que é importante? A melodia é a essência emocional da canção e muitas vezes define seu sucesso.
Dica prática: Comece criando frases melódicas simples e vá ajustando até encontrar algo cativante. Experimente cantar suas ideias e gravá-las para ouvir o impacto.
Harmonia: O Alicerce da Canção
A harmonia dá suporte à melodia. Trata-se dos acordes e progressões que fornecem profundidade e contexto emocional.
Por que é importante? Uma boa harmonia pode transformar uma melodia simples em algo poderoso e inesquecível.
Dica prática: Experimente diferentes progressões de acordes no piano ou violão e veja como elas interagem com sua melodia.
Letra: A História por Trás da Música
Embora seja comum pensar na letra como um complemento da melodia, ela tem um papel crucial em conectar o ouvinte à narrativa da canção.
Por que é importante? Letras bem escritas tornam a música mais envolvente e memorável.
Dica prática: Concentre-se em criar imagens vívidas e emocionais. Evite clichês e busque originalidade nas suas palavras.
Como Começar no Mundo do Songwriting?
Se você está começando, é normal sentir que há muitas peças no quebra-cabeça da composição. A boa notícia é que você não precisa resolver tudo de uma vez. A seguir, veja algumas etapas práticas para iniciar sua jornada.
1. Encontre Seu Tema
O tema é o ponto de partida de uma canção. Ele responde à pergunta: Sobre o que é essa música?
Por que começar pelo tema? Sem um tema claro, sua canção pode parecer desconexa ou sem propósito.
Dica prática: Reflita sobre suas experiências recentes. O que tem chamado sua atenção ou mexido com suas emoções? Use isso como inspiração.
Perguntas para ajudar a definir seu tema:
O que tem estado na sua mente nos últimos dias?
Que assuntos ou sentimentos têm despertado sua curiosidade ou inquietação?
Existe algo que você gostaria de dizer ao mundo?
2. Escolha a Estrutura da Canção
A estrutura é como um roteiro que organiza sua canção. As mais comuns incluem:
Verso-Refrão-Verso: A mais popular, com versos que contam a história e refrões que reforçam a mensagem principal.
ABABCB: Adiciona uma ponte (bridge), trazendo uma nova perspectiva antes de voltar ao refrão.
Narrativa Linear: Ideal para contar histórias do começo ao fim, sem refrões.
Dica prática: Escolha uma estrutura simples para começar e depois experimente variações para dar mais profundidade à sua música.
3. Pratique Regularmente
Como qualquer habilidade, songwriting requer prática. Dedique tempo para experimentar, mesmo que inicialmente você não se sinta confiante.
Dica prática: Escreva uma canção por semana. Não se preocupe com a qualidade no início; o objetivo é praticar e explorar suas ideias.
Dicas Avançadas para Melhorar Seu Songwriting
Se você já domina os fundamentos e deseja levar suas composições para o próximo nível, aqui estão algumas estratégias avançadas:
1. Explore Diferentes Gêneros
Cada gênero musical tem suas próprias características de melodia, harmonia e letra. Experimente compor em estilos diferentes para expandir seu repertório criativo.
2. Colabore com Outros Compositores
A composição em parceria pode trazer novas perspectivas e ideias. Trabalhar com outros músicos pode ensinar técnicas que você nunca considerou antes.
3. Use Ferramentas Tecnológicas
Existem muitas ferramentas que podem ajudar no processo de composição, como softwares de gravação, aplicativos para criar progressões de acordes e dicionários de rimas para melhorar suas letras.
4. Estude as Canções que Você Admira
Escolha músicas que você ama e analise o que as torna tão impactantes. Como a melodia, harmonia e letra trabalham juntas? Que técnicas o compositor utilizou?
Songwriting: Um Caminho Sem Limites
O songwriting é uma arte apaixonante que permite criar músicas que tocam as pessoas de formas únicas. Seja você um iniciante ou um compositor experiente, sempre há algo novo para aprender e explorar.
No entanto, essa jornada pode ser desafiadora. Muitas vezes, você pode se sentir perdido entre tantas possibilidades e técnicas. É aqui que ter um guia ou professor experiente faz toda a diferença. Um mentor não apenas ajuda a evitar erros comuns, mas também acelera seu desenvolvimento, fornecendo insights e estratégias que você talvez demorasse anos para descobrir sozinho.
Por isso, convido você a conhecer meu livro de composição de canções populares. Ele foi cuidadosamente elaborado para ser o material mais completo sobre o assunto escrito em português. Nele, você encontrará explicações claras, exemplos práticos e exercícios que o ajudarão a construir uma base sólida e desenvolver sua própria voz como compositor.
Lembre-se: não existe uma fórmula única para compor. Cada canção é uma jornada própria, e cada compositor tem um estilo único. Mas, com o suporte certo e as ferramentas adequadas, essa jornada se torna muito mais produtiva e inspiradora.
Não tenha medo de experimentar, errar e tentar novamente. Afinal, a beleza do songwriting está na sua capacidade de transformar emoções e ideias em música, conectando-se com outras pessoas de maneira profunda e autêntica.
Então, pegue seu instrumento, sua caneta e papel (ou o aplicativo no celular) e comece a compor. E se quiser potencializar ainda mais o seu aprendizado, meu livro está aqui para ser seu companheiro nessa jornada criativa. O mundo está esperando para ouvir o que só você pode criar.
Sobre o autor
Gandhi Martinez
Com mais de 15 anos de experiência como compositor, pianista, arranjador e educador musical, minha trajetória reflete dedicação e versatilidade no universo da música. Minha formação inclui graduação em Música, mestrado em Interpretação e Criação Musical, e doutorado em Processos Criativos com ênfase em Composição Musical. Atualmente, sou professor titular no Curso de Música da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), onde ministro disciplinas de piano e teoria musical nos cursos de Bacharelado e Licenciatura.
Em 2015, fui reconhecido como um dos 21 melhores instrumentistas do Brasil com o lançamento do meu primeiro CD, marco inicial de uma discografia autoral que inclui 5 CDs, 2 DVDs e diversos singles. Minha produção artística é caracterizada pela autenticidade e originalidade, elementos que também permeiam meu trabalho como educador e pesquisador na área da música.
Minhas composições abrangem um amplo espectro musical, unindo a riqueza e a expressividade da canção popular brasileira à sofisticação da música instrumental popular e a complexidade da música erudita. Todo esse trabalho pode ser encontrado no Spotify, YouTube e outras plataformas digitais. Atualmente, estou profundamente envolvido na criação de canções autorais, explorando uma rica diversidade de influências e estilos musicais.
Além da composição, dedico-me intensamente ao ensino, compartilhando meu conhecimento e paixão pela música com aqueles que desejam despertar e desenvolver sua criatividade. Esse compromisso vai além das salas de aula universitárias, estendendo-se também ao ambiente digital, onde procuro inspirar e orientar músicos e compositores.
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A composição musical é uma arte poderosa, capaz de transcender os limites da realidade e transportar o ouvinte para um universo emocionalmente rico e imaginativo. A música tem o extraordinário poder de deslocar a subjetividade do ouvinte para lugares distintos do cotidiano, independentemente da presença de letras. Quando nos entregamos à música com total atenção, somos conduzidos a uma jornada sensorial e emocional única, onde cada nota e acorde nos envolvem em um mundo totalmente novo.
Assim como um bom filme, a música tem a capacidade de nos imergir em uma narrativa mental e emocionalmente envolvente. Mesmo sem a presença de palavras, somos capazes de nos conectar profundamente com os sentimentos e conceitos expressos na música. Por exemplo, uma simples melodia pode evocar emoções como medo, tristeza ou alegria, permitindo que o ouvinte compreenda e reconheça o significado desses sentimentos, mesmo que não os esteja experienciando no momento.
Quando a letra de uma música se alinha perfeitamente às nuances estéticas que a música evoca, um novo nível de profundidade e expressão é alcançado. A música, por sua própria natureza, é capaz de criar atmosferas emocionais, despertar memórias e evocar sentimentos específicos. No entanto, quando a letra é habilmente concebida para complementar e aprimorar essas atmosferas, a experiência auditiva se torna ainda mais enriquecedora.
É como se a música fornecesse o cenário e a letra preenchesse esse cenário com personagens, diálogos e emoções. Quando os dois elementos se complementam, criam uma sinergia única que transcende as partes individuais. O ouvinte é levado a uma jornada emocional, onde cada acorde e cada palavra se fundem para criar uma experiência verdadeiramente imersiva.
É exatamente sobre esse fascinante processo de criação musical, onde a interação entre música e letra resulta em obras que transcendem o comum e tocam profundamente o coração do ouvinte, que abordarei neste artigo do blog.
Semiótica musical:
A música é uma forma de expressão profundamente enraizada na história e na cultura humanas. Desde os tempos antigos até os dias atuais, ela tem desempenhado um papel fundamental na comunicação de emoções, narrativas e significados diversos.
Partindo do pressuposto de que a música possui significado, a semiótica musical emerge como um campo de estudo dedicado a investigar como os diferentes elementos e materiais musicais são interpretados e comunicam esses significados. Neste contexto, a semiótica musical se concentra em analisar os símbolos, códigos e signos presentes na música (estrutura musical), buscando compreender como eles são percebidos, interpretados e atribuídos de significado pelos ouvintes.
A semiótica musical se dedica à análise dos signos musicais e seu processo de interpretação. Ela parte do princípio de que a música é uma linguagem simbólica, na qual os elementos sonoros são organizados e combinados para transmitir mensagens e significados aos ouvintes. Assim como na linguagem verbal, onde as palavras e frases são organizadas de acordo com regras gramaticais para formar sentenças com significado, na música, os sons são organizados de acordo com regras estruturais e estilísticas para criar composições que transmitem uma variedade de emoções, ideias e narrativas.
Os principais elementos da música, como melodia, harmonia, ritmo, timbre e dinâmica, são considerados signos que podem ser interpretados e atribuídos de significado pelos ouvintes. Por exemplo, uma melodia ascendente pode evocar sentimentos de felicidade ou triunfo, enquanto uma harmonia dissonante pode criar uma sensação de tensão ou desconforto. Da mesma forma, o ritmo e a dinâmica de uma peça musical podem influenciar o fluxo emocional da música, criando variações de intensidade e energia que são percebidas pelos ouvintes.
No entanto, é importante ressaltar que os significados musicais não são universais e imutáveis, mas sim construídos e interpretados dentro de um contexto cultural e individual. O mesmo elemento musical pode ter significados diferentes para diferentes pessoas, dependendo de suas experiências, memórias e associações pessoais. Além disso, os significados musicais também podem variar de acordo com o contexto em que a música é ouvida, como o ambiente físico, o contexto social e o propósito da audição.
A influência da cultura no entendimento dos significados musicais é profunda e multifacetada. Em diferentes culturas ao redor do mundo, diferentes estilos musicais, instrumentos, ritmos e melodias são associados a diferentes emoções, contextos sociais, religiosos e culturais. Por exemplo, um ritmo de dança em uma cultura pode ser interpretado como alegre e festivo, enquanto em outra cultura pode ser percebido como solene ou sagrado. Da mesma forma, certas escalas musicais podem evocar sentimentos específicos em uma cultura, mas ter um impacto completamente diferente em outra.
Portanto, a compreensão dos significados musicais é profundamente enraizada na cultura e na experiência pessoal de cada indivíduo, e a semiótica musical nos ajuda a explorar como esses significados são criados, transmitidos e interpretados através da linguagem da música.
Nesse sentido, a semiótica musical fornece um conjunto de ferramentas e métodos para analisar e interpretar os significados expressivos na música. Ao examinar os diferentes elementos e materiais musicais, bem como os contextos culturais e individuais em que são recebidos, a semiótica musical oferece insights valiosos sobre a natureza multifacetada e dinâmica da linguagem musical e seu poder de transmitir significados e emoções de forma poderosa.
Emoção e música – diferença entre emoção sentida e percebida:
A música é intrinsecamente ligada às emoções humanas. Ela não apenas desperta respostas emocionais nos ouvintes, mas também serve como um veículo para a expressão das qualidades emocionais, como uma espécie de “linguagem das emoções”.
No entanto, é crucial distinguir entre as emoções expressas por uma peça musical e aquelas sentidas pelo ouvinte. Esta distinção levanta duas questões fundamentais:
(1) A primeira diz respeito à observação de que os ouvintes frequentemente experimentam uma resposta emocional à música, manifestada por reações físicas como aumento da frequência cardíaca, arrepios, mudança de humor, riso, choro e assim por diante.
(2) A segunda questão está relacionada à ideia de que a música pode comunicar qualidades emocionais, independentemente de o ouvinte experimentar uma resposta emocional direta.
Assim, é essencial discernir entre as emoções percebidas na música e aquelas efetivamente sentidas em resposta a ela.
A música evocando emoções:
A música desempenha um papel fundamental na evocação e regulação das emoções humanas. Desde os tempos antigos, foi reconhecido seu poder sobre os estados emocionais.
Estudos modernos confirmam a importância das emoções na experiência musical, revelando que a música é frequentemente usada como um meio de regular o humor. Além disso, pesquisas demonstram que a música pode induzir uma ampla gama de emoções nos ouvintes, com características psicoacústicas e fatores culturais desempenhando papéis significativos nesse processo. Parâmetros como andamento, modo e intensidade foram identificados como influências chave na evocação emocional da música.
Estudos recentes têm destacado o papel desses parâmetros na determinação das emoções sentidas pelos ouvintes. O andamento, em particular, tem sido associado à dimensão de excitação, enquanto o modo está ligado à dimensão de valência.
É importante destacar que no contexto da música e sua relação com as emoções, os conceitos de excitação e valência descrevem aspectos distintos das experiências emocionais dos ouvintes em resposta à música:
Excitação: Refere-se ao nível de ativação ou energia associado a uma emoção. Em termos musicais, o andamento, que se relaciona com a velocidade da música, pode influenciar a excitação emocional sentida pelo ouvinte. Músicas com andamentos mais rápidos tendem a aumentar a excitação, provocando sensações de vigor, entusiasmo ou até mesmo ansiedade, dependendo do contexto e das características específicas da composição.
Valência: Refere-se à qualidade positiva ou negativa de uma emoção. No contexto musical, o modo (maior ou menor) está associado à valência emocional percebida. Modos maiores tendem a evocar emoções mais positivas, como alegria ou esperança, enquanto modos menores estão mais associados a emoções negativas, como tristeza ou melancolia. Essa associação pode ser influenciada pela cultura e experiências individuais, mas geralmente reflete padrões universais de percepção emocional na música.
Essas associações refletem não apenas características psicoacústicas, mas também construções sócio-histórico-culturais que influenciam a percepção e interpretação das emoções na música. Essa interação complexa entre parâmetros musicais e experiência emocional destaca a riqueza e a profundidade das emoções percebidas e experimentadas através da música.
A música comunicando emoções:
A música tem a capacidade de comunicar emoções por meio de suas estruturas e materiais. Diversos estudos científicos exploram como os ouvintes interpretam a dimensão emocional da música, muitas vezes pedindo-lhes para identificar as emoções expressas por peças musicais específicas.
A música pode comunicar uma ampla gama de emoções, como felicidade, tristeza, raiva, medo e ternura, com diferentes características musicais associadas a cada uma delas, como andamento, modo, harmonia, intensidade e articulação.
Essas são algumas características e materiais musicais que têm o potencial de comunicar uma variedade de emoções básicas:
Felicidade: Andamento rápido, modo maior, harmonia simples e consonantal, intensidade médio-alta do nível sonoro, região aguda, intervalos de 4ª e 5ª perfeitas, articulação em staccato, grande variabilidade de articulação, ritmo suave e fluente, timbre brilhante, ataques rápidos, entre outros.
Tristeza: Andamento lento, modo menor, dissonância, baixa intensidade do nível sonoro, região grave, faixa estreita de tom, contorno descendente, intervalos pequenos (por exemplo, 2ª menor), articulação legato, timbre opaco, ataques lentos, grande variabilidade de tempo (por exemplo, rubato), pausas, vibrato lento, entre outros.
Raiva: Andamento rápido, modo menor, atonalidade, dissonância, alta intensidade do nível sonoro, pequena variabilidade de intensidade, região aguda, intervalos de 7ª maior e 4ª aumentada, articulação em staccato, variabilidade moderada de articulação, ritmo complexo, mudanças rítmicas repentinas, timbre agudo, acentos em notas tonalmente instáveis, entre outros.
Medo: Andamento rápido, grande variabilidade de andamento, modo menor, dissonância, baixa intensidade do nível sonoro, grande variabilidade da intensidade do som, região aguda, ampla faixa de alturas, articulação em staccato, grande variabilidade de articulação, ritmos irregulares, entre outros.
Ternura: Andamento lento, modo maior, consonância, intensidade médio-baixa do nível sonoro, pequena variabilidade da intensidade sonora, região grave, articulação legato, pequena variabilidade de articulação, ataques lentos, timbre suave, acentos em notas tonalmente estáveis, entre outros.
Esses elementos contribuem para a expressão emocional da música, comunicando uma gama diversificada de emoções aos ouvintes.
Percebe-se que diversas características musicais podem ser configuradas para expressar cada uma dessas emoções, e um mesmo recurso pode ser aplicado em mais de um contexto emocional. Por exemplo, o andamento rápido é utilizado tanto para transmitir raiva (quando acompanhado com acordes dissonantes e ritmos agressivos) quanto felicidade (quando combinado com harmonias brilhantes e melodias otimistas).
Portanto, nenhuma característica isolada é capaz de comunicar a emoção por si só; é a presença de múltiplas características que amplia a confiabilidade da comunicação emocional.
Outro fato interessante é que as ligações entre alguns materiais musicais e expressão emocional podem surgir de padrões musicais que se assemelham às características físicas ou motoras de pessoas em diferentes estados emocionais. Por exemplo, temas musicais lentos e com contorno descendente podem expressar tristeza pela maneira que se assemelha aos movimentos físicos de uma pessoa deprimida. De acordo com essa visão, certas características e materiais musicais são experimentados como expressivos de emoções simplesmente em virtude de sua semelhança com atitudes ou expressões humanas.
Outros significados expressivos da música:
Como observado, existe uma conexão consistente entre certos elementos musicais e diversos afetos básicos, como felicidade, medo, ternura, raiva e tristeza. Aspectos como tonalidade, andamento e textura desempenham papéis fundamentais na representação dessas emoções.
No entanto, os significados expressivos na música não se limitam apenas aos aspectos emocionais, mas abrangem uma ampla gama de possibilidades.
Categorias Estéticas:
As Categorias Estéticas abrangem não apenas a música, mas também outras formas de arte. Algumas dessas categorias incluem o belo, o trágico, o cômico, o sublime, o épico ou heroico, o grotesco, o gracioso, o feio, o ridículo, o sinistro, o horrível, o sombrio, e aquelas criadas no século XX, como o kitsch, o camp, o histérico, o fofo, o excêntrico e o interessante.
Estilo Entre Mídias:
O conceito de Estilo Entre Mídias, como por exemplo o Barroco e o Rococó, influencia não apenas a música, mas também outras formas de arte, como pintura, escultura e arquitetura. Na composição musical, isso se traduz em elementos estilísticos específicos de cada período, como a ornamentação intricada do Barroco ou a delicadeza elegante do Rococó, que evocam significados particulares. Por exemplo, uma peça musical identificada como barroca pode sugerir ideias de música antiga, sacralidade ou uma estética refinada.
Gêneros Musicais:
Da mesma forma, os Gêneros Musicais específicos também carregam consigo uma carga significativa. Ao longo da história da música, os gêneros têm evoluído e se adaptado às mudanças na vida e na sociedade. Cada gênero possui características distintas que os identificam dentro de um determinado campo de significação. Por exemplo, a Bossa Nova evoca sentimentos de calma, tranquilidade e amor romântico. Se uma composição instrumental apresenta as características típicas da bossa nova, é provável que esses sentimentos sejam comunicados aos ouvintes, mesmo sem a presença de letra.
Tópicas Musicais:
Um caso particularmente interessante são as Tópicas Musicais. Elas representam estruturas com significados mais específicos na composição musical.
As tópicas podem incluir motivos musicais associados a emoções particulares, como o uso de escalas menores para expressar tristeza ou ritmos frenéticos para retratar agitação. Além disso, certas estruturas podem remeter a regiões geográficas e culturas específicas, como as tópicas nordestinas.
Também é comum encontrar tópicas que abordam temas narrativos ou simbólicos, como a representação musical de eventos históricos, mitológicos ou literários. Essas tópicas enriquecem ainda mais o repertório de significados expressivos disponíveis na música, proporcionando uma ampla variedade de interpretações e conexões emocionais para os ouvintes.
O impacto das experiências pessoais:
É importante salientar que as associações individuais e experiências pessoais desempenham um papel crucial na interpretação dos significados expressivos e na resposta emocional à música. O mesmo conjunto de características musicais pode evocar emoções e significados variados em diferentes indivíduos, dependendo de suas experiências passadas e associações pessoais.
Por exemplo, um andamento rápido que normalmente transmitiria uma sensação de felicidade para uma pessoa pode despertar sentimentos de raiva ou ansiedade em outra, com base em suas experiências individuais. Essas associações podem ser profundamente enraizadas em memórias passadas, eventos significativos ou até mesmo na educação de cada indivíduo.
Essa influência das experiências individuais e das associações pessoais na percepção emocional da música ressalta a natureza subjetiva e multifacetada da experiência musical. Cada ouvinte traz consigo um conjunto único de bagagem cultural e emocional que molda sua resposta à música de maneira única. Portanto, a mesma peça musical pode ter significados e provocar emoções distintas em diferentes pessoas, tornando a experiência musical profundamente pessoal.
A música é ambígua, a letra é específica:
Como vimos até aqui, a música, de fato, tem a capacidade de comunicar significados e evocar emoções diversas, mas essa comunicação difere da linguagem verbal em sua natureza.
Enquanto na linguagem natural as palavras têm significados específicos e referenciais, na música os significados são mais abstratos e ambíguos. Não é possível transmitir informações concretas ou instruções precisas apenas por meio de sons musicais, como se faz com as palavras em uma conversa cotidiana.
Por exemplo, não é possível indicar um local e horário específicos para um encontro ou descrever uma atividade detalhada apenas por meio da música. Por mais que se tente, não é possível transmitir uma mensagem específica, como “encontre-me no cruzamento da avenida X com a rua Y às 14:45 de terça-feira para comermos uma pizza de calabresa”, utilizando apenas sons musicais.
No entanto, a música pode estabelecer atmosferas gerais e evocar sensações amplas. É nesse contexto que a letra de uma música desempenha um papel crucial.
Enquanto a música cria a atmosfera geral, a letra pode fornecer referências específicas e narrativas concretas que adicionam profundidade e significado à experiência auditiva. A letra pode contar uma história, descrever situações ou transmitir mensagens diretas, aproveitando-se de sua referencialidade para enriquecer a experiência emocional e intelectual do ouvinte.
Dessa forma, a combinação entre música e letra permite uma comunicação mais completa e complexa, combinando elementos abstratos e concretos para transmitir significados mais ricos e específicos.
Word Painting e simbiose entre atmosfera musical e conteúdo da letra:
Pode-se afirmar com tranquilidade que a interação entre música e letra é uma das características mais marcantes da arte da canção. Enquanto a música estabelece uma atmosfera emocional e evoca sensações abstratas, a letra fornece narrativas concretas e referências específicas que enriquecem a experiência auditiva. No entanto, é crucial que tanto a música quanto a letra estejam em harmonia, compartilhando o mesmo campo estético, para que o resultado artístico final seja eficaz e impactante.
Uma maneira pela qual essa harmonia pode ser alcançada é através do conceito de Word Painting, ou “pintura de palavras”. O Word Painting refere-se à prática de composição na qual a música é criada de forma a ilustrar ou refletir as imagens ou emoções presentes na letra.
Por exemplo, se a letra descreve uma cena de tristeza, o compositor pode optar por utilizar acordes menores ou melodias melancólicas para transmitir essa emoção. Da mesma forma, se a letra menciona um elemento da natureza, como o vento ou o mar, o compositor pode incorporar sons ou ritmos que emulam esses elementos na música.
Essa prática não apenas fortalece a conexão entre música e letra, mas também amplia a capacidade expressiva da canção como um todo. Ao alinhar os elementos musicais e textuais de forma coesa, o compositor cria uma experiência auditiva mais imersiva e envolvente para o ouvinte, permitindo que ele mergulhe profundamente na história ou no sentimento transmitido pela canção.
Além disso, a simbiose entre música e letra também contribui para a coesão estilística da obra. Quando ambos os elementos compartilham o mesmo campo estético, a mensagem da música é transmitida de forma mais clara e impactante. Por exemplo, uma música com uma letra melancólica e uma melodia alegre pode criar uma desconexão emocional para o ouvinte, prejudicando a eficácia da comunicação.
Nesse contexto, ao escrever uma letra para uma melodia existente, o letrista tem o prazer de dar uma definição precisa ao que a música está “dizendo” de forma genérica. Por outro lado, ao musicar uma letra, o compositor cria uma melodia e harmonia que complementam e realçam os sentimentos expressos nas palavras.
Portanto, a necessidade de que a letra tenha relação com a atmosfera geral da música é fundamental para garantir a coesão e a eficácia comunicativa da canção. A prática do Word Painting oferece uma ferramenta poderosa para os compositores alcançarem essa harmonia, permitindo que tanto a música quanto a letra se complementem e se fortaleçam mutuamente, resultando em uma experiência auditiva mais rica e significativa para o ouvinte.
Exemplo de Word Painting na canção brasileira:
Em “Caminhos Cruzados” de Tom Jobim, há um momento verdadeiramente marcante de Word Painting que ilustra magistralmente a transformação emocional sugerida pela letra da música.
No verso “Deixa esse novo amor chegar”, ocorre uma modificação musical sutil, porém impactante: um acorde que “deveria” ser menor, de acordo com o campo harmônico da tonalidade em questão, é substituído por um acorde maior. Essa alteração traz consigo uma luminosidade renovada, destacando a esperança e o potencial de alegria que o “novo amor” descrito na letra pode trazer.
Essa modificação musical não apenas complementa, mas também intensifica o significado da frase, sugerindo uma mudança de perspectiva emocional em consonância com o conteúdo lírico. O acorde maior evoca uma sensação de otimismo e renovação, convidando o ouvinte a se abrir para as possibilidades de um novo começo amoroso.
No entanto, essa efêmera luminosidade é seguida por uma sombria melancolia no verso seguinte: “Mesmo que depois seja imprescindível chorar”. Aqui, há a utilização de uma nona bemol (empréstimo modal do modo menor) que reflete a inevitabilidade da dor e do sofrimento que muitas vezes acompanham o amor. Neste momento a melodia traz um caráter mais sombrio e dramático, capturando e potencializando a essência da tristeza e do sofrimento que estão sendo descritos na letra.
Já na canção “Beatriz”, uma colaboração entre Edu Lobo e Chico Buarque, é possível observar um detalhe marcante de Word Painting que exemplifica a simbiose entre letra e melodia. Nessa obra, a composição musical se entrelaça de forma magistral com o conteúdo lírico, criando uma conexão emocional e visualmente evocativa.
O momento em que essa conexão se torna especialmente evidente é quando a nota mais baixa da melodia coincide precisamente com a palavra “chão” (“Me ensina a não andar com os pés no chão”), enquanto a nota mais alta é alcançada simultaneamente com a palavra “céu” (“Se ela um dia despencar do céu”). Esse uso consciente dos materiais musicais para refletir e amplificar o significado das palavras revela uma atenção meticulosa aos detalhes por parte dos compositores.
Esse fenômeno de Word Painting não apenas enriquece a experiência auditiva, mas também cria uma imagem sonora que complementa e aprofunda o conteúdo da letra. Ao alinhar cuidadosamente as características da melodia e harmonia com o significado emocional e visual das palavras, os compositores conseguem criar uma expressão artística mais completa e envolvente, capaz de tocar os ouvintes em múltiplos níveis sensoriais e emocionais.
Exemplos autorais de coerência entre atmosfera musical e conteúdo da letra:
Agora, apresentarei três exemplos de coerência entre a atmosfera musical e o conteúdo das letras em composições de minha autoria, cada uma evocando uma atmosfera distinta. Convido você, leitor, a ouvir atentamente as músicas enquanto reflete sobre o que está sendo discutido neste artigo.
A canção “Música do Céu”, é um exemplo de coerência entre a atmosfera musical e o conteúdo da letra. Se tocada de forma instrumental, ela transmite uma sensação de tranquilidade e pureza, remetendo à sonoridade da música barroca, conhecida por suas associações com o refinamento, espiritualidade e religiosidade.
A letra da música foi cuidadosamente concebida para se adequar a essa atmosfera, mantendo-se coerente com as possibilidades sugeridas pela música. Ela traz uma narrativa romântica, mas com uma conotação pura e sagrada, que transcende o amor terreno para algo mais elevado e transcendente.
A canção “Lamento do Villa” cria uma atmosfera dramática e pesada, onde a música e a letra se entrelaçam para retratar um mergulho nas profundezas do sofrimento. A melodia transmite uma tristeza palpável e uma notável intensidade emocional, enquanto a letra dá voz ao protagonista (o próprio Villa), imerso na dor avassaladora de um amor perdido.
A canção “Tenha Dó Criançada” é uma composição que transmite uma atmosfera alegre e quase infantil. No entanto, o que torna essa música única é sua temática inusitada: a perspectiva de um professor de música dentro da sala de aula, contando suas experiências de uma maneira bem-humorada e despretensiosa.
Ao longo da música, o professor compartilha suas reflexões e observações sobre a dinâmica da sala de aula, destacando os desafios e as situações engraçadas que surgem durante o ensino da música. Ele aborda temas como a falta de atenção dos alunos, as tentativas de mantê-los engajados e a importância do respeito mútuo no ambiente da sala de aula.
A melodia alegre e a letra cativante criam uma atmosfera de leveza e diversão, enquanto o ritmo animado da música reflete a energia contagiante do professor em sua abordagem educacional. Através de sua narrativa descontraída, o professor consegue transmitir lições importantes sobre música e vida de uma forma acessível e envolvente para seus alunos.
Conclusão:
Como vimos, a música tem o poder de evocar e comunicar significados e emoções profundas nos ouvintes, mesmo quando desprovida de letras. Um exemplo claro disso são as composições puramente instrumentais, presentes em gêneros como música clássica e jazz, que são capazes de conduzir os ouvintes a uma jornada emocional sem a necessidade de palavras.
Além disso, podemos observar como músicas em idiomas desconhecidos podem nos emocionar e nos transportar para lugares subjetivos, mesmo sem compreendermos as letras. Isso ressalta a importância das atmosferas musicais na comunicação emocional, mostrando que a música é uma linguagem universal que vai além das barreiras linguísticas.
No entanto, um desafio surge quando a atmosfera de uma música sugere algo específico, mas a letra é incongruente com essa atmosfera.
Por exemplo, imaginar uma canção de ninar em estilo death metal. Essa combinação seria incoerente, pois o gênero death metal evoca emoções e estéticas totalmente diferentes das associadas a uma canção de ninar. Esse exemplo extremo ilustra até que ponto a falta de harmonia entre a temática da letra e a atmosfera musical pode comprometer a eficácia e coerência de uma composição.
Portanto, ao compor uma música, é essencial considerar não apenas a melodia e a harmonia, mas também a mensagem e a atmosfera que se deseja transmitir.
A sinergia entre a música e a letra é fundamental para criar uma experiência auditiva coesa e impactante para o ouvinte. Quando esses elementos estão em harmonia, a música tem o poder de emocionar, inspirar e conectar-se profundamente com quem a ouve.
Sobre o autor
Gandhi Martinez
Como compositor, pianista, arranjador e educador musical há mais de 15 anos, trago uma vasta experiência e dedicação ao universo da música. Minha jornada acadêmica inclui graduação em Música, mestrado em Interpretação e Criação Musical, e atualmente estou dedicado ao doutorado em Processos Criativos, com foco na Composição Musical. Fui reconhecido entre os 21 melhores instrumentistas do Brasil com o lançamento do meu primeiro CD, e desde então, tenho compartilhado minha arte através de diversos trabalhos, incluindo 5 CDs, 2 DVDs e vários singles, todos marcados pela autenticidade das minhas composições autorais.
Minhas composições abrangem um amplo espectro musical, que vai desde a riqueza da canção popular brasileira até a sofisticação da música instrumental popular e peças eruditas. Além de prosseguir com meu Doutorado, estou intensamente comprometido em compor minhas próprias canções, explorando diversas influências e estilos musicais. Paralelamente, dedico-me ao ensino, compartilhando meu conhecimento e paixão pela composição musical com aqueles que desejam explorar e desenvolver sua criatividade na música.
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Palavras e Melodia: A Prosódia na Composição Musical
Prosódia na linguística
Na linguística, a prosódia é o ramo da gramática que se dedica à escolha precisa da sílaba tônica ao pronunciarmos uma palavra. É ela que nos guia na delicada arte de dar o som correto a cada sílaba, contribuindo para uma pronúncia precisa e uma acentuação silábica adequada.
Se, por exemplo, dissermos “NÓbel” em vez de “noBEL”, estamos incorrendo em um deslize prosódico, o que chamamos de “silabada”.
Prosódia na música
Já na música, a prosódia assume um papel ainda mais desafiador. Aqui, precisamos harmonizar a letra com a melodia, respeitando tanto as acentuações das palavras quanto as acentuações da melodia.
Quando essas acentuações não estão alinhadas, o resultado pode ser uma experiência auditiva desconfortável para o ouvinte, além de dificultar a compreensão da mensagem e, em alguns casos, até mesmo alterar o significado das palavras.
O maior perigo da silabada
O desafio de sincronizar a letra com a melodia respeitando suas acentuações é crucial para a compreensão da música. A falta de alinhamento entre as sílabas tônicas das palavras e os tempos fortes da melodia pode resultar em uma experiência auditiva desconfortável para o ouvinte, além de dificultar a compreensão da letra, tornando-a menos natural.
Esse desalinhamento, conhecido como silabada, deve ser evitado para manter a fluidez e a coerência do texto. Além disso, a acentuação incorreta pode alterar o significado das palavras, causando confusão no entendimento da mensagem original da música.
Portanto, a correta sincronização entre letra e melodia é essencial para uma comunicação eficaz e uma experiência musical satisfatória.
Exemplos de palavras que mudam de significado dependendo da posição da sílaba tônica:
Fábrica / Fabrica
Camelo / Camelô
País / Pais
Sabiá / Sábia
Carnê / Carne
Está / Esta
Agência / Agencia
Mesmo quando a silabada não ocorre com palavras que mudam de significado, a falta de sincronia entre acentuações ainda pode gerar confusão para quem ouve, dificultando a assimilação da letra e prejudicando a fluidez da mensagem. O ouvinte pode se sentir desconectado da música e ter dificuldade em acompanhar o seu conteúdo, resultando em uma experiência auditiva menos envolvente e impactante.
Portanto, a atenção à prosódia musical é essencial não apenas para evitar alterações de significado, mas também para garantir a clareza e a coesão da comunicação.
Exemplos de silabada
Um exemplo clássico de como a silabada pode alterar o significado de uma palavra é encontrado na música “Será” do grupo Legião Urbana. Quando a sílaba “se” da palavra “será” coincide com uma nota acentuada da melodia, o ouvinte tende a interpretar a palavra como “sÊra”, o que pode ser confundido com “cera”, como a substância utilizada para limpeza doméstica ou automotiva, resultando em uma compreensão distorcida da letra.
Outro exemplo ilustrativo é percebido na música folclórica “Atirei o pau no gato”. Muitas vezes, entoamos “berrÔ”, enfatizando a última sílaba, quando, na verdade, a sílaba tônica está na primeira, “bÉrro”. Esse desalinhamento entre acentuação e melodia é o que caracterizamos como “silabada”, um deslize na harmonia entre palavras e música.
Outro exemplo ocorre em algumas interpretações do clássico nordestino “Lamento Sertanejo” (Dominguinhos/Gilberto Gil), onde as acentuações acabam deixando a letra assim:
“[…] Eu quase que não consigo
FÍcar na cidade sem viver contrariado.
Por ser de lá
Na certÁ por isso mesmo
Não gostÚ de cama mole
Não sei cÔmer sem torresmo […]”
Silabada proposital
Embora as silabadas devam ser evitadas para manter a naturalidade do texto, há momentos em que os compositores as utilizam de forma deliberada para criar efeitos específicos.
Um exemplo marcante é encontrado na música “O Velho Francisco” de Chico Buarque, onde palavras como “comida” são pronunciadas como se fossem proparoxítonas (“cÔmida”), e “roupa lavada” soa como “roupa lÁvada”.
Nesse caso, o compositor brinca com a sonoridade das palavras, adicionando camadas de significado e expressão à sua obra.
Assonância e Aliteração
Compreender como a prosódia opera na música não apenas nos permite reconhecer os erros, mas também nos capacita a utilizar conscientemente figuras de linguagem que exigem controle e sensibilidade rítmica.
Um exemplo claro disso são a aliteração e a assonância, recursos literários que dependem fortemente do ritmo e da acentuação das palavras para alcançar seu efeito desejado.
A assonância, por exemplo, é caracterizada pela repetição harmoniosa de sons vocálicos (vogais) numa frase, o que intensifica a musicalidade e o ritmo, conferindo maior expressividade ao texto. É um recurso estilístico amplamente utilizado na literatura, música e provérbios populares, oferecendo uma riqueza sonora que enriquece a experiência auditiva do público. Por exemplo, na música “Atrás da Porta” de Chico Buarque, há a repetição das vogais “ei”:
“Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos”
Outro exemplo é a música “Minha foz do Iguaçu” de Djavan, com a repetição da vogal “u”:
“Minha foz do Iguaçu
Pólo sul, meu azul
Luz do sentimento nu”
Na minha composição “Gente Bem-Amada” (Gandhi Martinez) faço uso da assonância repetindo o som da letra “i”:
“Isso meu amigo eu te digo é um perigo
Pois a vida sem amor não vale nada”
A aliteração é uma figura de linguagem que consiste na repetição de fonemas consonantais em uma sequência de palavras ou em um verso. Essa repetição sonora cria um efeito rítmico e melódico, contribuindo para a musicalidade do texto. O objetivo da aliteração é provocar um impacto auditivo, sugerindo uma sensação de harmonia e fluidez na expressão verbal. Essa técnica é frequentemente utilizada na poesia e na literatura para enfatizar determinados sons e criar uma atmosfera sensorial mais rica e envolvente.
Na música “Parabólica” (Engenheiros do Hawaii) há a repetição da letra “p” durante toda a letra:
“Ela para e fica ali parada
Olha-se para nada
Paraná
Fica parecida paraguaia
Para-raios em dia de sol
Para mim
Prenda minha parabólica
Princesinha parabólica
O pecado mora ao lado
E o paraíso
Ele paira no ar
Pecados no paraíso”
Ou na música “Ode ao Rato” (Chico Buarque), que contém intensa repetição do som da letra “r” (mas também ocorre assonância em algumas partes):
“Rato
Rato que rói a roupa
Que rói a rapa do rei do morro
Que rói a roda do carro
Que rói o carro, que rói o ferro
Que rói o barro, rói o morro
Rato que rói o rato
Ra-rato, ra-rato
Roto que ri do roto
Que rói o farrapo
Do esfarra-rapado
Que mete a ripa, arranca rabo
Rato ruim
Rato que rói a rosa
Rói o riso da moça
E ruma rua arriba
Em sua rota de rato”
Pode-se dizer que a distinção entre assonância e aliteração está na natureza dos sons que cada uma enfatiza. Enquanto a assonância destaca a repetição de sons de vogais, a aliteração foca na repetição de sons de consoantes. Essa compreensão é fundamental para que o compositor ou letrista possa aplicar essas figuras de linguagem de forma eficaz e significativa em suas composições.
No entanto, para utilizar esses recursos de maneira precisa, é imprescindível ter consciência não apenas da distinção entre vogais e consoantes, mas também da prosódia, isto é, da forma como as palavras são acentuadas e pronunciadas em uma frase ou verso.
Além disso, é essencial compreender a instância rítmica e as acentuações da melodia, pois a interação entre a música e a letra é crucial para o sucesso da composição.
Benção ou maldição?
Entender os conceitos de prosódia e os possíveis erros que podem ocorrer pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição para os amantes da música.
Por um lado, esse conhecimento nos capacita a apreciar mais profundamente a complexidade e a beleza das composições musicais. Ao compreender como a prosódia influencia a qualidade e o impacto das músicas, somos capazes de mergulhar em uma nova camada de apreciação artística, reconhecendo e admirando o trabalho dos compositores em um nível mais detalhado.
No entanto, essa nova perspectiva também pode se tornar uma maldição, pois uma vez que começamos a perceber os erros de prosódia em músicas, é difícil ignorá-los. Onde antes apenas ouvíamos uma melodia agradável, agora somos constantemente distraídos por sílabas tônicas mal colocadas ou acentuações desalinhadas. Isso pode afetar nossa capacidade de desfrutar plenamente da música, pois nos tornamos críticos mais exigentes e sensíveis a esses detalhes.
Entender como funciona a prosódia e como ocorrem as silabadas pode ser uma faca de dois gumes para os apreciadores de música. Por um lado, nos permite uma apreciação mais profunda das composições, reconhecendo a complexidade e a arte por trás delas. Por outro lado, isso pode nos tornar mais críticos e sensíveis a pequenos detalhes, podendo afetar nossa capacidade de desfrutar plenamente da música.
No entanto, essa consciência também pode nos motivar a buscar uma maior compreensão e apreciação da arte musical, permitindo-nos descobrir novas camadas de significado e beleza nas composições que amamos.
Erros de prosódia não são o fim do mundo!
É crucial reconhecer que, como vimos anteriormente, até mesmo composições clássicas imortais e músicas folclóricas podem conter erros de prosódia, e isso, por si só, não determina a qualidade da obra. Muitas músicas que apresentam vários desses erros ainda alcançam sucesso comercial e recebem o respeito do público especializado.
Por outro lado, o oposto também é verdadeiro: a ausência de erros de prosódia não garante automaticamente que uma música será considerada excelente. A qualidade de uma canção é determinada por uma variedade de fatores, incluindo composição, arranjo, melodia, letra e a capacidade de transmitir uma emoção ou mensagem.
Assim, embora a prosódia seja importante, ela é apenas uma parte do quadro geral na avaliação da música.
Palavras finais
O desafio de sincronizar a letra com a melodia, respeitando suas respectivas acentuações, vai além da mera questão técnica. Trata-se de uma jornada artística que requer sensibilidade e habilidade para transmitir efetivamente a mensagem da música.
Quando as sílabas tônicas das palavras e os tempos fortes da melodia estão alinhados, criamos uma experiência sonora envolvente e coesa, capaz de capturar a atenção do ouvinte e conduzi-lo por uma viagem emocional.
No entanto, quando ocorre um desalinhamento, seja por uma simples silabada ou por uma escolha deliberada do compositor, isso pode resultar em uma quebra na narrativa da música, prejudicando sua fluidez e impacto.
Portanto, a atenção à prosódia musical não se limita apenas à correção técnica, mas também envolve a expressão artística e a comunicação eficaz. Dominar essa simbiose entre letra e melodia é fundamental para criar obras que não apenas soem bem aos ouvidos, mas que também emocionem aqueles que as escutam.
Sobre o autor
Gandhi Martinez
Como compositor, pianista, arranjador e educador musical há mais de 15 anos, trago uma vasta experiência e dedicação ao universo da música. Minha jornada acadêmica inclui graduação em Música, mestrado em Interpretação e Criação Musical, e atualmente estou dedicado ao doutorado em Processos Criativos, com foco na Composição Musical. Fui reconhecido entre os 21 melhores instrumentistas do Brasil com o lançamento do meu primeiro CD, e desde então, tenho compartilhado minha arte através de diversos trabalhos, incluindo 5 CDs, 2 DVDs e vários singles, todos marcados pela autenticidade das minhas composições autorais.
Minhas composições abrangem um amplo espectro musical, que vai desde a riqueza da canção popular brasileira até a sofisticação da música instrumental popular e peças eruditas. Além de prosseguir com meu Doutorado, estou intensamente comprometido em compor minhas próprias canções, explorando diversas influências e estilos musicais. Paralelamente, dedico-me ao ensino, compartilhando meu conhecimento e paixão pela composição musical com aqueles que desejam explorar e desenvolver sua criatividade na música.
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O estudo de Anglada-Tort (2018) mostra como a informação contextual pode afetar as avaliações subjetivas da música.
Neste estudo, o autor comparou as avaliações de uma mesma peça musical quando apresentada como improvisação ou composição pré-existente.
Participantes altamente treinados ouviram a mesma gravação da peça, divididos em dois grupos.
O grupo 1 (improvisação) foi informado que a música era uma improvisação, enquanto o grupo 2 (composição) recebeu a informação de que se tratava de uma performance ao vivo de uma composição.
O autor escolheu uma peça musical ambígua em relação à sua categoria para realizar o estudo.
Resultados
Os resultados mostraram que a peça foi avaliada de forma mais negativa quando experimentada como composição, pois foi vista como “carente de qualquer tipo de organização formal numa grande escala de tempo”.
No entanto, a falta de organização não foi vista como negativa no grupo 1 (improvisação), pois os participantes não esperavam uma estrutura bem definida na música improvisada.
Esses resultados destacam a importância da categoria sob a qual uma peça musical é percebida e como isso afeta sua interpretação estética.
Isso levanta questões interessantes sobre como nossos estilos favoritos podem afetar nossa percepção de uma determinada música.
Além disso, o autor salienta que os resultados podem ser diferentes se a amostra fosse de não músicos, que não possuem conhecimento específico extra e podem ter expectativas diferentes.
Usos práticos
Em resumo, o estudo de Anglada-Tort (2018) fornece insights interessantes sobre como a informação contextual afeta nossas avaliações subjetivas da música e como a categoria sob a qual a música é percebida pode afetar sua interpretação estética.
Os compositores podem se beneficiar das descobertas mencionadas no estudo de Anglada-Tort (2018) em suas carreiras artísticas de várias maneiras, incluindo:
1 – Conscientização sobre a importância da apresentação e contextualização da obra: Compreender a influência da informação contextual na avaliação da música pelos ouvintes pode incentivar os compositores a apresentar suas obras de maneiras diferentes para diferentes públicos.
2 – Exploração de novos formatos musicais: Ao perceber que a falta de organização formal em uma grande escala de tempo pode ser vista como um aspecto negativo para alguns ouvintes, os compositores podem experimentar com formatos musicais diferentes, como peças curtas ou mais estruturadas, para agradar a diferentes audiências.
3 – Desenvolvimento de uma narrativa musical mais forte: Saber que a percepção da música depende fortemente da categoria sob a qual o objeto em questão está sendo percebido pode incentivar os compositores a criar uma narrativa musical mais forte, de modo que sua obra possa ser facilmente categorizada e compreendida pelos ouvintes.
4 – Exploração de novos gêneros musicais: Compreender a importância da categorização da música na percepção estética pode encorajar os compositores a explorar novos gêneros musicais e a expandir seu repertório, de modo que possam atrair diferentes públicos.
5 – Adaptação à diversidade cultural: Compreender como a percepção da música pode ser afetada por diferenças culturais pode incentivar os compositores a adaptar suas obras a diferentes culturas e a incluir elementos musicais que possam ser mais atraentes para audiências específicas.
Assista ao vídeo completo sobre este artigo!
Neste vídeo explico mais detalhes e dou mais informações sobre o artigo que vimos aqui. Aproveite e se inscreva no canal.
Sobre o autor
Gandhi Martinez
Sou compositor, pianista, arranjador e educador musical há mais de 15 anos. Sou graduado em Música, Mestre em Interpretação e Criação Musical e Doutorando em Processos Criativos (Composição Musical). Já figurei na lista dos 21 melhores instrumentistas do Brasil com o meu primeiro CD. Já lancei diversos trabalhos com minhas composições autorais (4 CDs, 2 DVDs, 1 EP e diversos singles).
Minhas composições vão desde a canção popular brasileira até a música instrumental popular e peças eruditas. Atualmente, além do Doutorado, estou me dedicando a compor minhas próprias canções e a ensinar outras pessoas que estejam interessadas em compor música.
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como informações biográficas afetam a experiência do ouvinte
O estudo de Kiernan et al. (2021) investigou se a leitura de informações biográficas sobre o compositor Jan Dismas Zelenka (1679-1745) antes de ouvir sua música influenciaria as respostas emocionais dos ouvintes.
O estudo teve 179 participantes que leram uma biografia negativa ou neutra de Zelenka, ou nenhuma biografia, antes de ouvir dois pequenos trechos de sua música.
Depois de ouvir cada trecho, os participantes preencheram um questionário com 27 itens sobre suas respostas emocionais e foram solicitados a descrever com suas próprias palavras como a música os fazia sentir.
56 participantes leram uma biografia curta de Zelenka que usava uma linguagem relativamente neutra e não fazia afirmações sobre sua personalidade ou caráter.
“Algumas das obras mais célebres de Zelenka foram compostas durante os últimos anos de sua vida em Dresden. Quando ele morreu em 1745, o rei e a rainha, que não estavam em Dresden na época, foram imediatamente informados”
62 participantes leram uma biografia redigida com linguagem negativa e que continha fortes afirmações sobre a personalidade e o caráter do compositor.
“Ele parece ter tido uma personalidade neurótica e hipocondríaca, e morreu como um homem amargo e solitário em 1745”
Para 61 participantes nenhuma biografia foi fornecida antes da música.
Resultados
Os resultados apontaram que os participantes que leram a biografia negativa de Zelenka eram mais propensos a usar linguagem negativa para descrever como a música os fez sentir, enquanto os participantes que não leram nenhuma biografia eram mais propensos a usar linguagem neutra.
As descobertas sugerem que “informações biográficas sobre compositores (por exemplo, em notas de programa) podem ter um impacto nas experiências emocionais dos ouvintes”.
Os resultados deste estudo indicam que as respostas emocionais das pessoas à música são influenciadas não apenas pela estrutura da música, mas também por suas percepções da identidade do compositor – assim como também ocorreu no estudo de Margulis et al. (2017), no qual informações sobre as intenções expressivas de um compositor influenciaram a escuta da sua música.
No estudo atual, informações biográficas que descrevem a personalidade do compositor influenciaram as respostas emocionais dos ouvintes à sua música.
Usos práticos
Os compositores podem se beneficiar das descobertas deste estudo de várias maneiras. Aqui estão cinco exemplos de usos práticos:
Considerar cuidadosamente a forma como suas biografias são apresentadas em notas de programa, redes sociais, entrevistas, sites, jornais, revistas etc a fim de moldar as percepções dos ouvintes sobre sua música. Isso pode incluir enfatizar elementos positivos de sua personalidade e caráter para influenciar as respostas emocionais dos ouvintes de forma positiva.
Usar informações sobre as intenções expressivas em suas composições para ajudar os ouvintes a entender e apreciar melhor a música. Por exemplo, fornecer informações sobre a inspiração por trás de uma peça pode ajudar os ouvintes a se conectar emocionalmente com a música.
Usar informações sobre a identidade do compositor para ajudar a promover sua música. Por exemplo, se um compositor tem uma história de vida interessante ou uma conexão com um evento importante, isso pode ser destacado para atrair a atenção do público.
Considerar a forma como a música será ouvida e percebida pelos ouvintes, especialmente se a música for escrita para uma ocasião específica, como um filme ou uma peça de teatro. Isso pode incluir ajustar a música para se adequar à atmosfera ou ao tema do evento e fornecer informações contextuais para ajudar os ouvintes a entender melhor a música.
Assista ao vídeo completo sobre este artigo!
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Sobre o autor
Gandhi Martinez
Sou compositor, pianista, arranjador e educador musical há mais de 15 anos. Sou graduado em Música, Mestre em Interpretação e Criação Musical e Doutorando em Processos Criativos (Composição Musical). Já figurei na lista dos 21 melhores instrumentistas do Brasil com o meu primeiro CD. Já lancei diversos trabalhos com minhas composições autorais (4 CDs, 2 DVDs, 1 EP e diversos singles).
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Fischinger, Kaufmann e Schlotz (2018) conduziram um experimento para investigar como a percepção e a apreciação de uma obra musical podem ser influenciadas por informações fornecidas em notas de programas.
O experimento usou o paradigma do enquadramento e envolveu 170 ouvintes de diferentes idades (entre 19 e 80 anos) que leram descrições em forma de notas de programa antes de ouvir uma obra musical pouco conhecida de Mysliveček.
Os autores manipularam os textos em duas dimensões:
(1) modo de escrita da descrição (analítico versus expressivo). O modo de escrita analítico usou uma linguagem objetiva e analítica, enquanto o modo de escrita expressivo focou na qualidade afetiva da música;
(2) autoria (atribuição da peça musical a dois compositores de prestígio e destaque muito diferente). Os textos sobre Mysliveček ou Mozart incluíam aspectos como antecedentes familiares, reputação e contexto da obra.
Os participantes leram a descrição em uma tela de computador e, em seguida, ouviram a peça musical através de fones de ouvido.
Depois, preencheram um questionário computadorizado sobre gosto e características percebidas da música ouvida. A avaliação de gosto foi medida em uma escala de 1 a 6, enquanto as características musicais foram avaliadas em 28 itens com uma escala de 1 a 7.
Resultados
Os resultados mostraram diferenças significativas na avaliação de gosto e no caráter afetivo da música, dependendo do modo de escrita da descrição (analítico ou expressivo).
As avaliações de gosto foram significativamente maiores para os participantes que leram a descrição escrita no modo expressivo em comparação com o modo analítico.
Além disso, os participantes que leram a descrição expressiva classificaram a música como mais leve, relaxada, suave, alegre e lírica em comparação com o modo analítico.
O estudo também mostrou que os efeitos de prestígio foram moderados pela idade. Atribuições de autoria a compositores distintos (Mysliveček ou Mozart) levaram a diferentes avaliações de gosto apenas em participantes mais jovens, enquanto os mais velhos foram menos suscetíveis à sugestão de prestígio e tiveram uma maior independência interpretativa.
Essas descobertas são consistentes com um estudo anterior de Bennett e Ginsborg (2018), que examinou as reações do público às notas de programa (embora sem foco nos efeitos de prestígio). Os autores relataram que os ouvintes mais experientes eram mais propensos a rejeitar as informações da nota do programa em favor de sua própria interpretação.
Segundo Fischinger, Kaufmann e Schlotz (2018), os ouvintes mais jovens (com idade ≤ 40) provavelmente “engajaram um ‘piloto automático’ de avaliação estética, o que estaria de acordo com a definição clássica de efeitos de prestígio em termos de: ‘Se é Mozart, deve ser bom!’
Usos práticos
Os compositores podem se beneficiar das descobertas do estudo em suas carreiras artísticas de diversas maneiras. Aqui estão três usos práticos:
Escrever notas de programa que enfatizem a qualidade afetiva da música pode aumentar a apreciação da obra por parte dos ouvintes, especialmente entre os mais jovens. Portanto, os compositores podem se beneficiar ao trabalhar com escritores e musicólogos para criar descrições que transmitam não apenas informações técnicas, mas também emoções e sensações que a música possa evocar.
Compositores podem considerar a idade de seu público-alvo ao escolher a forma e o conteúdo das notas de programa. Se o público for predominantemente mais jovem, é provável que uma descrição expressiva e envolvente seja mais eficaz para aumentar a apreciação da música. Por outro lado, se o público for mais velho e experiente, pode ser melhor fornecer menos informações detalhadas e permitir que o público forme suas próprias interpretações.
Atribuir uma obra musical a um compositor de prestígio pode influenciar positivamente a avaliação da música pelos ouvintes mais jovens. Assim, os compositores podem se beneficiar em colaborar com intérpretes renomados e em garantir que a atribuição de autoria de suas obras seja divulgada adequadamente em materiais de promoção.
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Sou compositor, pianista, arranjador e educador musical há mais de 15 anos. Sou graduado em Música, Mestre em Interpretação e Criação Musical e Doutorando em Processos Criativos (Composição Musical). Já figurei na lista dos 21 melhores instrumentistas do Brasil com o meu primeiro CD. Já lancei diversos trabalhos com minhas composições autorais (4 CDs, 2 DVDs, 1 EP e diversos singles).
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Hoje vamos descobrir o que é o efeito de contraste e 3 maneiras de como podemos utilizá-lo para melhorarmos a experiência dos ouvintes com a nossa música.
Esse efeito é MUITO PODEROSO!
A ciência comprova! Veremos resumidamente os resultados de 3 artigos científicos que comprovam o efeito de contraste na música.
Mas antes de vermos o efeito de contraste na música especificamente, vamos entender como esse efeito foi descoberto e quais suas principais características.
Vem comigo!
Efeito de Contraste – Hedônico ou Estético
O efeito de contraste hedônico, também conhecido como efeito de contraste estético ou apenas como efeito de contraste, diz respeito a como os julgamentos hedônicos e estéticos podem ser influenciados pelo contexto.
O contraste hedônico foi descrito pela primeira vez por Gustav Theodor Fechner em 1898 – que na época chamou de Princípio de Contraste Estético.
Seu princípio geral de contraste hedônico era:
“Aquilo que dá prazer dá mais prazer quanto mais entra em contraste com fontes de desprazer ou de menor prazer; e uma proposição correspondente vale para aquilo que dá desprazer”.
Tendemos a classificar estímulos médios como inferiores quando precedidos por exemplares “mais positivos” e como superiores quando precedidos por exemplares “mais negativos”. Quando são classificados como superiores, isso é chamado de contraste positivo, e quando classificados como inferiores, isso é chamado de contraste negativo.
Por exemplo, quando água morna parece quente ao toque quando precedida de água fria, e fria quando precedida de água quente.
Vamos ver outro exemplo. Suponhamos a seguinte situação:
Vamos dizer que você tenha comido um pedaço de pizza e, numa escala de 1 a 10, você deu a nota 5.
Segundo o conceito de contraste hedônico, provavelmente você daria uma nota mais baixa para essa pizza se tivesse experimentado uma pizza extremamente boa (nota 10) antes dessa, e uma nota mais alta se tivesse experimentado uma pizza extremamente ruim (nota 1) antes.
Ou seja, uma refeição mediana, quando precedida por uma péssima, é melhor avaliada do que seria sem a refeição contrastante – e vice-versa.
Botas apertadas dão mais prazer
Preste atenção no trecho a seguir retirado do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis.
“Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar”.
Este trecho apresenta uma situação cotidiana que exemplifica bem o contraste hedônico: o prazer que alguém sente ao tirar as botas ao fim do dia é proporcionalmente inverso ao desconforto que estes lhe causaram apertando-lhe os pés durante o dia.
Em outras palavras: quanto mais as botas são apertadas, maior é o prazer ao tirá-las.
Ou seja, neste caso das botas apertadas, o efeito de contraste hedônico produz uma espécie de realce do prazer de uma situação (tirar as botas) através da discrepância em relação ao desprazer de uma situação anterior (as botas apertando os pés).
Parábola do Bode na Sala
Existe uma parábola muito conhecida que exemplifica perfeitamente o efeito de contraste hedônico no âmbito do cotidiano. É a parábola do Bode na Sala.
Certo dia um homem chegou até o sábio de sua região e falou:
– Na minha casa vai tudo mal, minha mulher implica comigo o tempo todo, meus filhos não me obedecem, tudo está uma bagunça, todos os dias tem discussão, não aguento mais.
Então o sábio lhe disse:
– Eu sei que o senhor tem um bode em sua propriedade. A partir de amanhã quero que coloque o bode para viver dentro da casa junto com vocês, ele não pode sair de dentro da casa por nada, volte em uma semana.
O homem achou aquele conselho muito estranho, mas resolveu seguir a recomendação, não tinha nada a perder.
Na semana seguinte o homem voltou transtornado até o sábio e falou:
– O seu conselho não deu nada certo. Minha vida está muito pior, eu, minha mulher e meus filhos passamos o dia tentando colocar a casa em ordem, é uma bagunça danada, uma sujeira terrível. O bode está comendo e quebrando tudo lá em casa! E o mau cheiro não tem fim! Eu não aguento mais!!
Então o sábio disse para o homem:
– Muito bem! Agora você vai colocar o bode para fora de casa.
– Só isso? – falou o homem.
– Sim! Volte daqui uma semana.
Na semana seguinte o homem voltou junto com a família, todo feliz, com um sorriso de orelha a orelha:
– Sábio, a nossa vida está tão boa, a gente não briga mais, minha mulher não passa mais o dia implicando comigo, nem meus filhos brigam mais, a casa está limpa, organizada, nunca estivemos tão felizes. Me explique qual foi a sua mágica.
E o sábio respondeu:
– Não foi mágica, vocês só precisavam de um problema maior na vida de vocês para perceberem a insignificância dos problemas que estavam enfrentando antes.
Efeito de Contraste nas Artes visuais
Trazendo para o campo artístico, “uma pintura bonita é percebida de forma mais positiva quando é apresentada depois de uma pintura considerada feia, e vice-versa” (DROUIN, 2022).
Exemplo disto foi demonstrado no trabalho de Dolese et al., (2005), onde os autores descobriram que pinturas consideradas pouco atraentes de Goya aumentaram as avaliações positivas de pinturas consideradas mais atraentes do próprio pintor.
Ou seja, os participantes que viram primeiro pinturas consideradas hedônica e esteticamente negativas do “período negro” de Francisco Goya posteriormente fizeram avaliações mais favoráveis às pinturas do “período da tapeçaria” de Goya (consideradas mais positivas) do que os participantes que viram apenas as pinturas da tapeçaria.
Efeito de Contraste na música
Exemplo 1
No estudo de Temme e Gieszen (1995) os autores relataram que música tradicional (Bach, Mozart e Mendelssohn) foi classificada como mais agradável depois que os sujeitos ouviram música moderna (Schönberg, Bartok e Stravinsky) – mas não encontraram contraste negativo para os sujeitos que ouviram a música tradicional primeiro.
Exemplo 2
No estudo de Parker et al., (2008), os autores pediram aos participantes que avaliassem alguns trechos musicais depois de ouvir outros trechos musicais que haviam sido previamente classificadas como “agradáveis” ou “desagradáveis”.
As composições “agradáveis” tinham ritmos estáveis e harmonias tonais (predominantemente terças maiores e quintas justas).
As composições “desagradáveis” tinham ritmo menos previsível e incluíam harmonias dissonantes (predominantemente segundas menores e quintas diminutas).
Os resultados apontaram que quando os trechos musicais “desagradáveis” foram ouvidos após uma música “agradável”, foram classificados pior do que quando foram ouvidos primeiro. E quando trechos musicais “agradáveis” foram ouvidos após uma música “desagradáveis”, foram classificados melhor do que quando foram ouvidos primeiro.
Exemplo 3
Os resultados do estudo de Peynircioglu et al., (2013) demostraram que melodias “felizes”, quando precedidas por uma melodia “mais feliz”, foram julgadas como “menos felizes”. O mesmo ocorreu com melodias tristes.
Usos práticos do Efeito de Contraste na Música
Esse tipo de ideia já ronda intuitivamente por aí, mas é bom saber que isso é comprovado cientificamente.
O contraste hedônico pode ser utilizado de várias formas num show:
Escolher a ordem das músicas
Quer enfatizar a tristeza de uma música? Toque uma música super agitada e feliz ANTES dela!
Quer enfatizar a melancolia de uma música? Toque uma música super feliz e agitada ANTES dela.
Isso vale tanto para pensar no setlist de um show quanto na ordem das músicas de um álbum (CD, DVD etc)
Escolher a ordem dos improvisos
Músicos de jazz: nos improvisos, comece pelo músico menos efusivo para o mais efusivo – ou pelo menos mescle.
Tente não encerrar o ciclo de improvisos com um improvisador muito “morno”. Procure finalizar a seção de improvisos com um clímax.
Para facilitar que isso aconteça, preceda o último improvisador de outro mais calmo e lírico – e deixe o efeito de contraste acontecer na música e na cabeça dos ouvintes.
Escolher a ordem das bandas
Se possível, evite ser um rabo de foguete no festival.
A expressão “pegar um rabo de foguete” quer dizer tocar depois de uma banda MUITO melhor e/ou mais animada que a sua. Ou que tem músicas mais conhecidas e que o público conhece e gosta, canta junto, dança etc.
O primeiro artista incendeia o público com seu repertório e deixa a “bucha” na mão do próximo. Ou seja, o artista ou banda que vem depois tem a obrigação de entregar um show NO MÍNIMO com a mesma energia do que veio antes.
Se por acaso o seu show pegar um rabo de foguete e não conseguir superar ou se igualar ao show anterior, corre enorme risco de ser visto como um show ruim.
Isso acontece porque MUITO PIOR do que seria se tivesse sido feito sem um super show antes.
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Sobre o autor
Gandhi Martinez
Sou compositor, pianista, arranjador e educador musical há mais de 15 anos. Sou graduado em Música, Mestre em Interpretação e Criação Musical e Doutorando em Processos Criativos (Composição Musical). Já figurei na lista dos 21 melhores instrumentistas do Brasil com o meu primeiro CD. Já lancei diversos trabalhos com minhas composições autorais (4 CDs, 2 DVDs, 1 EP e diversos singles).
Minhas composições vão desde a canção popular brasileira até a música instrumental popular e peças eruditas. Atualmente, além do Doutorado, estou me dedicando a compor minhas próprias canções e a ensinar outras pessoas que estejam interessadas em compor música.
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A estética é uma área da filosofia que estuda a natureza da arte e sua relação com os seres humanos.
Mas o valor estético (a beleza) é uma propriedade do objeto/fenômeno ou um modo de um sujeito perceber um certo objeto/fenômeno?
Enquanto alguns argumentam que a beleza e o valor estético são determinados exclusivamente pelos gostos e percepções individuais, outros defendem que há critérios objetivos para a avaliação estética.
Essas duas posições são conhecidas como subjetividade estética e objetividade estética, respectivamente.
A “subjetividade estética” e a “objetividade estética” são conceitos fundamentais na estética e na filosofia da arte.
A diferença entre eles está relacionada à forma como percebemos e avaliamos a arte.
Como veremos, a subjetividade estética enfatiza a importância das emoções e experiências pessoais na experiência estética, enquanto a objetividade estética enfatiza a importância de critérios objetivos na avaliação da qualidade da obra de arte – como sua estrutura formal e as técnicas utilizadas pelo artista.
Ambas as perspectivas são importantes para entender como percebemos e avaliamos a arte, e o objetivo deste texto é apresentar as principais ideias desses conceitos e apresentar uma conciliação entre essas duas visões aparentemente opostas.
Reduziremos as respostas a três perspectivas fundamentais: objetivismo, subjetivismo e uma mescla destas duas que tenta integrá-las.
A seguir veremos os princípios básicos destes entendimentos que se propõem a explicar as fontes da qualidade estética.
Objetivismo Estético
O objetivismo concebe o objeto como o que existe em si e por si, à margem de qualquer relação com o sujeito, seja qual for essa relação e o modo como é concebido pelo sujeito.
A objetividade estética reconhece que a obra de arte é um objeto autônomo, que existe independentemente da experiência individual do observador.
Os antecedentes dessa concepção estética já são encontrados na Antiguidade grega desde os pitagóricos, para os quais a beleza é uma propriedade do universo e das coisas e, portanto, o que se percebe como belo existe independente de ser percebido ou não.
O sujeito limita-se a perceber a beleza nos objetos e só lhe cabe descobrir o que já existe – não importando a sua relação com ele.
Tal ponto de vista defende que a fonte da qualidade estética está em certas qualidades das coisas e da natureza e se manifesta em certas estruturas formais (simetria, proporção, harmonia, etc), e associadas a determinadas fórmulas ou relações matemáticas (como é o caso da “seção áurea” ou “número de ouro”).
Portanto, o objetivismo enfatiza a importância de critérios universais, tais como a harmonia, a proporção, a simetria e a coerência, que podem ser aplicados para avaliar a qualidade estética de uma obra de arte.
Essa perspectiva tem sido defendida por muitos filósofos, desde Immanuel Kant até Clive Bell.
De certa maneira, o objetivismo estético radical não admite multiplicidade de significados, ou “inserir” um significado (emocional, expressivo) que não “pertence” ao objeto/experiência, pois as qualidades definidas pelo próprio objeto são o que são – e apenas o que são, nada mais –, portanto, não mudam de acordo com quem as observa ou de como se observa.
Portanto, a qualidade estética de uma obra de arte pode ser avaliada de forma objetiva, sem levar em consideração as opiniões pessoais e subjetivas dos indivíduos que a experimentam.
No caso de uma composição musical, são levados em conta aspectos como: técnica, coerência, unidade, originalidade, complexidade, entre outros atributos.
A partir desta perspectiva, uma obra de arte pode ser considerada bela ou de alta qualidade com base apenas em seus atributos técnicos, independentemente das opiniões pessoais dos indivíduos que a experimentam.
É como se o valor estético já estivesse contido na estrutura do objeto artístico e o sujeito apenas “testemunha” seus significados sem contribuir nem interferir em nada.
Em última análise, se o observador não tem influência nenhuma sobre a qualidade estética de uma obra de arte, então isso quer dizer que, segundo a perspectiva da objetividade estética, só há uma interpretação possível para cada obra.
Só há uma interpretação “correta” – ou, na melhor das hipóteses, algumas poucas possibilidades de interpretações diferentes.
Subjetividade Estética
Diametralmente oposta à perspectiva objetivista que desconsidera o papel do sujeito na manifestação da qualidade estética, está o subjetivismo, que absolutiza o papel da subjetividade, deixando de lado as qualidades e os fatores objetivos da relação estética com o objeto.
A subjetividade estética se refere à ideia de que a experiência estética é pessoal e única para cada indivíduo.
Ela destaca a importância do sujeito na apreciação da obra de arte, reconhecendo que o gosto estético de cada pessoa é influenciado por suas experiências pessoais, emoções, educação, cultura e tempo histórico em que vive.
É uma maneira do sujeito “interpretar” as coisas do mundo, inclusive as obras de arte.
De certa forma, a ideia radical da subjetividade encarna a ideia dos sofistas, da qual o homem era a medida de todas as coisas e, portanto, também da beleza.
Ou seja, é a mente humana que faz as coisas parecerem belas.
Assim, a fonte da estética é transposta do objeto para o sujeito.
Só o fato de algo ser entendido como “belo”, já denota a percepção de uma mente.
“A beleza não é nenhuma qualidade das coisas em si mesmas. Existe na mente de quem as contempla, e cada mente percebe uma beleza diferente”. (David Hume)
O subjetivismo contém em si esses dois aspectos fundamentais: a negação das qualidades objetivas e a absolutização do papel do sujeito.
Não há objeto estético se o sujeito não o converte em tal ao interessar-se por ele.
O juízo de valor estético que empregamos é o que determina a nossa posição e interpretação sobre um determinado objeto ser ou não belo, ser ou não uma obra de arte, ter ou não ter valor estético/artístico, e assim por diante.
Estes juízos são pessoais, mas são influenciados pelo contexto cultural e tempo histórico que estamos inseridos, portanto, estão sujeitos a mudanças.
Segundo a perspectiva do subjetivismo estético, é impossível encontrar um juízo universal acerca de determinada obra de arte, porque a arte não tem valor intrínseco em si: não há critérios absolutos que tornam certo objeto belo ou não para todas as pessoas.
O valor estético deriva do interesse do sujeito e não das qualidades do objeto.
Uma grande queda d’água – como uma catarata –, por exemplo, carece de valor estético até que uma sensibilidade (mente) humana a considere sublime. Ou seja, a catarata não é sublime em si, necessita do sujeito que a perceba e considere como tal.
O mesmo ocorre em relação às artes.
Por exemplo, na música, é quase impossível haver objetividade.
As razões que levam uma pessoa gostar da “5ª Sinfonia” de Beethoven e outra pessoa da música “Que tiro foi esse” de Jojo Todynho são diferentes, uma vez que não só as obras são diferentes entre si, mas também os critérios de cada indivíduo são diferentes: dependem de seu background cultural, seu senso de identidade, diferenças de educação, modos de vida e visões de mundo.
Mas aí surge uma pergunta: se a beleza está 100% “nos olhos de quem vê”, então o que diferencia um objeto qualquer de uma obra de arte?
Algumas obras que desafiaram essa noção de subjetividade extrema foram Urinol (1917) do artista plástico francês Marcel Duchamp e a obra 4:33 (1952) do compositor americano John Cage.
Os problemas de cada perspectiva
Tanto o objetivismo quanto o subjetivismo têm sua parcela de verdade quanto à fonte da qualidade estética, mas erram ao tentar chamar para si toda a explicação do fenômeno e ignorar o “outro lado”.
O objetivismo reduz o papel do sujeito a um simples registro do já ocorrido esteticamente no objeto em si, sem que participe ativamente em sua constituição.
O objetivismo estético baseia o estético em certas estruturas formais, associadas a certas propriedades – simetria, harmonia, proporção. No entanto, cabe observar que a mera presença dessas características não basta para que os objetos em que estas ocorrem adquiram um valor estético.
A simetria, por exemplo, não é garantia de esteticidade, já há objetos que são considerados belos sem que sejam simétricos, ou, ao contrário, que são simétricos, mas não são belos.
No que diz respeito às fórmulas matemáticas que regem certas estruturas formais (número de ouro, sequencia de Fibonacci), pode-se afirmar que essas fórmulas “são encontradas também em inúmeras obras medíocres”, ou seja, sem valor estético.
Já o subjetivismo absolutiza o papel do sujeito, portanto, transforma o objeto numa mera projeção de uma faculdade sua e dá a esta faculdade uma dimensão universal, sem levar em conta fatores históricos.
No entanto, o sujeito não vive num vácuo, isolado do seu contexto histórico e social. Muito pelo contrário, ele está permeado pelo complexo ideológico que rege sua respectiva época, e está submerso pelos embates sociais e culturais.
Portanto, o sujeito reflete toda esta carga histórico-sócio-cultural em todos os julgamentos de valor que venha a fazer, inclusive nos julgamentos de cunho estético.
Neste sentido, o sujeito não carrega uma subjetividade isolada e única, mas uma subjetividade inserida em um contexto particular.
Conciliação entre Subjetividade e Objetividade
Uma visão balanceada entre essas duas perspectivas sugere que não significa que basta a intervenção do sujeito para que este considere qualquer objeto belo ou sublime, por exemplo, algumas características precisam estar contidas neste objeto para que, ao contrário de outros objetos, este em particular provoque no sujeito o sentimento de beleza ou sublimidade.
Enquanto não há relação com o sujeito o objeto estético só existe potencialmente, ou seja, só passa a existir efetivamente ao se tornar um objeto para o homem que, em determinadas condições sociais e históricas, assume um determinado paradigma estético.
Só quando a ideologia estética (presente na mente do indivíduo) existe e está estabelecida numa certa sociedade é que se criam as condições para que se produzam os encontros concretos, singulares, entre sujeito e objeto que chamamos de situações/fruições estéticas.
É nesse cenário que os objetos dotados de certas qualidades (portanto, não qualquer objeto) adquirem uma existência estética efetiva.
Enquanto não entra em uma situação estética concreta (enquanto não é percebido ou contemplado), o objeto, mesmo possuindo as qualidades ou propriedades necessárias, só possui um potencial estético. Para que possa realizar sua “esteticidade” (ou seja, passar do mero potencial), exige-se a participação do sujeito. Só então o objeto “revela” sua forma sensível à qual é imanente um significado e, ao percebê-lo, o sujeito não inventa essa forma nem esse significado.
Portanto, se o objeto prescindisse destas formas e significados, não se realizaria a “esteticidade” do objeto (que é o que não entende o subjetivismo).
Por sua vez, prescindindo da intervenção do sujeito, tal encontro (entre sujeito e objeto) não alcançaria um plano estético (e isso é o que o objetivismo não entende).
Concluindo, a fruição estética (ou a possibilidade de existir um valor estético), não se trata de uma habilidade universal aplicável a qualquer objeto, mas sim de um “interesse” que surge e se mantém na relação do sujeito com um objeto que possui certas qualidades.
Ou seja, o valor estético e os significados de uma obra de arte não “irradiam” das propriedades físicas e sensíveis do objeto, mas sim da interação com os indivíduos em suas respectivas particularidades.
Outros valores
O assunto deste artigo diz respeito ao valor estético, mas numa obra de arte também podem existir valores de outras ordens, tais como sociais, políticos, históricos, morais, religiosos, etc.
Muitas vezes uma obra acaba sendo valorizada por causa destes parâmetros, e não a partir de seus atributos especificamente estéticos.
Sem dúvida estes valores têm sua importância, mas devem ser compreendidos como aspectos de segunda ordem, ou seja, não devem ser centrais em uma obra de arte, apenas complementares.
A balança atual pende para a subjetividade e o relativismo
Numa sociedade baseada no individualismo, a visão subjetivista tende a prosperar, já que cada pessoa acredita que possui uma perspectiva única sobre tudo e, consequentemente, por ser única, “é muito especial”.
Quando a subjetividade (ou seja, o “gosto” individual de cada pessoa) se torna o único ponto de referência para avaliar o valor da arte, é inevitável termos por consequência o total relativismo da arte e uma impossibilidade de debate fora dessa perspectiva.
É aqui que as teorias subjetivistas possibilitam o relativismo do valor da arte, da inexistência de valores estéticos objetivos. Se cada sujeito é único e fruirá da obra à sua maneira, então não é possível falar de valores objetivos, mas apenas de valores subjetivos, ou seja, do gosto pessoal. É extremamente comum ouvirmos as frases “arte é subjetiva” ou que é uma “questão de opinião”. Esse tipo de pensamento abre caminho para um relativismo total da obra de arte, na qual toda e qualquer interpretação está correta e é válida.
Por isso é que é tão difícil falar objetivamente sobre uma música, um estilo ou um gênero musical ser bom (ter valor estético) ou ruim (não ter valor estético), por exemplo, porque sempre pode haver o argumento que “se você não está percebendo o valor estético dessa música é por que você não possui o background sociocultural necessário para compreendê-lo”; ou porque “você está tentando encaixar esta música num modelo estético que valoriza outros atributos”.
É evidente que uma obra de arte pode ter diversas interpretações, contudo, é prudente se prevenir de uma relativização total da objetividade dos valores estéticos. O relativismo extremo, tão comum nos nossos dias, deve ser sempre avaliado com cautela e, quando necessário, questionado através de uma crítica pautada nos valores intrínsecos da obra de arte, nos valores estéticos objetivos da obra em si, e não a partir apenas de gostos subjetivos e preferências de modas artísticas passageiras.
Esse movimento se faz necessário porque a balança do valor estético pendeu desproporcionalmente para o lado do subjetivismo e relativismo. É necessário propor uma visão mais balanceada e próxima da realidade do mundo estético.
O valor intrínseco da obra de arte
Não se deve confundir o valor intrínseco de uma obra de arte com as flutuações dos gostos e das modas de determinado momento histórico. Da mesma forma que uma obra antiga pode renovar sua importância em outro momento histórico, uma obra que marcou época pode se mostrar totalmente irrelevante com o passar dos anos.
Se o valor da obra é autêntico, ele não se depreciará com o passar do tempo. Ou seja, não estará submetido às questões de gostos e preferências de determinado momento histórico.
As obras que possuem um valor intrínseco, que atendem às categorias estéticas objetivas, perduram ao longo das diferentes épocas, visto que a obra supera a particularidade histórica na qual foi produzida, e supre necessidades intelectuais, emocionais e artísticas do gênero humano.
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Sobre o autor
Gandhi Martinez
Sou compositor, pianista, arranjador e educador musical há mais de 15 anos. Sou graduado em Música, Mestre em Interpretação e Criação Musical e Doutorando em Processos Criativos (Composição Musical). Já figurei na lista dos 21 melhores instrumentistas do Brasil com o meu primeiro CD. Já lancei diversos trabalhos com minhas composições autorais (4 CDs, 2 DVDs, 1 EP e diversos singles).
Minhas composições vão desde a canção popular brasileira até a música instrumental popular e peças eruditas. Atualmente, além do Doutorado, estou me dedicando a compor minhas próprias canções e a ensinar outras pessoas que estejam interessadas em compor música.
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O poder da melodia é algo surpreendente, mas todos os significados da música são poderosos.
Mas afinal, qual é o significado de uma peça musical?
A grosso modo, é tudo o que entendemos quando escutamos uma obra musical.
Mas um significado que valorizamos muito são as emoções expressas nas obras musicais.
Nem toda música expressa emoções, é claro, mas neste artigo falaremos sobre este poder específico. E sobretudo, sobre o poder da melodia no âmbito dos significados emocionais.
Além de provocar respostas emocionais nos ouvintes (como arrepios, choro, irritação, bem-estar, etc), a música pode ser vista como um meio pelo qual algumas qualidades emocionais podem ser comunicadas aos ouvintes (ou seja, nós entendemos que a música expressa tristeza, alegria, empolgação, etc).
A música, neste caso, poderia ser entendida como uma espécie de “linguagem das emoções”, que comunica significados emocionais aos ouvintes.
Apesar de ainda serem raros os estudos que investigam explicitamente até que ponto os compositores conseguem comunicar emoções específicas aos ouvintes, um bom exemplo é o estudo de Thompson e Robitaille (1992), que veremos a seguir.
O experimento
Neste experimento, os autores queriam testar o poder da melodia isolada.
Portanto, pediram a cinco músicos experientes para compor melodias curtas (menos de 1 minuto) que deveriam transmitir seis emoções específicas:
alegria
tristeza
excitação
tédio
raiva
paz
Os compositores tiveram duas semanas para compor as melodias que comunicassem as qualidades emocionais associadas aos termos fornecidos.
PS: Uma melodia é definida simplesmente como uma textura monofônica, ou seja, uma textura na qual não mais do que uma nota soando ao mesmo tempo.
Lembrando que estas melodias NÃO TÊM LETRA atrelada a elas. São melodias puramente instrumentais.
Os compositores foram solicitados a enviar as melodias na forma de partituras musicais: com notação de alturas (notas), armaduras de clave, andamentos e quaisquer outras indicações relevantes, como marcações de dinâmica e ornamentação.
Os participantes ouviram as melodias “interpretadas” por um sequenciador eletrônico MIDI – e foram solicitados a julgar a qualidade emocional de cada uma delas.
Uma coisa importante:
Como geralmente a pesquisa sobre música e emoções considera as conotações emocionais de performances musicais gravadas (ou seja, que contêm textura harmônica, orquestração, estrutura melódica, variações de performance e outros fatores que se combinam para formar um conjunto complexo de influências na interpretação do ouvinte), este estudo se concentrou especificamente na composição musical (melodias curtas) e excluiu variáveis associadas à textura harmônica, orquestração ou as contribuições expressivas de um intérprete.
Resultados
O resultado foi que os participantes reconheceram TODAS AS EMOÇÕES nas melodias – mesmo sendo interpretadas eletronicamente –, ou seja, as melodias foram julgadas de acordo com a qualidade emocional que se pretendia transmitir com cada uma delas.
Os resultados deste estudo indicam que os compositores são capazes de comunicar qualidades emocionais distintas e definíveis aos ouvintes, até mesmo por meio de pequenas melodias, tocadas precisamente como notadas na partitura e sem intervenção humana.
Esse é o poder da melodia!
Mesmo sendo tão curta, sem acompanhamento e sem a interpretação de um ser humano a melodia é capaz de comunicar emoções aos ouvintes de forma eficaz.
Usos práticos
Este estudo comprovou que a melodia é extremamente importante e potente para transmitir emoções, mesmo quando isolada.
Devemos lembrar que a melodia é a parte que mais conecta os ouvintes com uma música e é a parte mais lembrada também. Pense em quantas melodias você sabe e nem entende ou lembra da letra. Pois é, a gente lembra de melodias inteiras de músicas que nem entendemos o idioma.
A melodia é extremamente poderosa!
Construa suas melodias com cuidado e dedicação. Sem pre lembre-se do poder da melodia!
Num outro artigo veremos quais características uma melodia deve ter para expressar diferentes emoções.
Mas se você quiser saber como compor uma melodia, temos um artigo específico sobre esse assunto aqui no blog. Acesse pelo link abaixo.
Numa canção o caráter da melodia precisa ser congruente com o que está sendo dito na letra.
Ou seja, a melodia não pode contradizer o que está sendo dito na letra! Uma parte tem que potencializar a outra.
Se você está falando sobre algo feliz na sua letra tenha o cuidado de fazer uma melodia que transmita – por si só – emoções como felicidade, empolgação, etc.
Não vá escrever uma letra melancólica para uma melodia super feliz. A chance de uma música com essas características soar amadora são enormes.
Outro ponto que fica claro com este estudo, é que o compositor tem total controle sobre o caráter da sua música, sem depender do intérprete.
No entanto, o intérprete pode ressaltar o conteúdo da música (enfatizando os detalhes estruturais da composição, mesmo que não sejam indicadas na partitura) e pode até adicionar certas nuances a sua música.
Os intérpretes podem adicionar novas qualidades emocionais à música através de ações expressivas que são características de seu próprio estilo de execução.
Vale a pena se dedicar para conversar com as pessoas que vão interpretar sua música, isso pode fazer toda diferença no resultado final.
O poder da melodia é incrível, mas com uma boa interpretação pode ficar mais poderosa ainda!
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Referências:
THOMPSON, W. F.; ROBITAILLE, B. Can composers express emotions through music? Empirical Studies of the Arts, 10, 79–89, 1992.
O estudo de Margulis et al. (2017) investigou a influência de informações textuais sobre a apreciação estética de trechos musicais ambíguos (ou seja, trechos musicais que poderiam ser percebidos tanto como positivos quanto como negativos).
Os autores questionaram se informações sobre a intenção expressiva de um compositor em relação a uma obra pode influenciar a maneira com que esta peça musical é entendida em termos afetivos (emocionais).
Os trechos musicais, foram extraídos do estudo de Hunter, Schellenberg e Schimmack (2008). Seus estímulos eram trechos de aproximadamente 30s transmitiam afeto ambíguo misturando estruturas musicais “conflitantes” em valência (modo maior e andamento lento ou modo menor e tempo rápido). Esses estímulos abrangeram uma variedade de estilos musicais, mas todos eram trechos instrumentais sem letra ou parte vocal.
O experimento
Neste estudo, 118 indivíduos ouviram 18 trechos de 30s de música previamente caracterizados como expressivamente ambíguos precedidos por informações textuais com valência positiva, negativa ou neutra.
Os participantes foram informados que existiam informações sobre as intenções do compositor para cada trecho, por exemplo:
(1) descrições sobre intenções expressivas positivas diziam que o compositor escreveu a obra com a intenção de expressar sua paixão e devoção por seu amor;
(2) descrições negativas diziam que o compositor escreveu a peça para expressar luto pela morte de um membro da família;
(3) descrições neutras afirmavam que o compositor havia composto a peça para experimentar diferentes técnicas de composição.
Essas informações foram apresentadas numa tela de computador antes de cada trecho ser tocado.
6 trechos foram precedidos por informações com valência negativa
6 trechos foram precedidos por informações de valência positiva
6 trechos foram precedidos por informações de valência neutra
Após cada trecho, cinco perguntas foram apresentadas exigindo que o participante selecionasse uma resposta numa escala de 7 pontos (1 = mínimo; 7 = máximo):
(1) Quão feliz este trecho pareceu?
(2) Quão comovente este trecho pareceu?
(3) Quão triste este trecho pareceu?
(4) O trecho correspondeu à intenção do compositor?
(5) O quanto você gostou deste trecho?
Resultados
Os resultados apontaram que as informações textuais com valência positiva levaram os participantes a experimentar os trechos musicais ambíguos como mais felizes, e informações com valência negativa levaram a experimentar os trechos como mais tristes.
Além disso, informações prévias de valência positiva aumentaram o prazer e o grau em que as pessoas acharam os trechos musicais comoventes.
Isto aponta que informações textuais com conteúdo afetivo saliente influenciam e modificam o entendimento de conteúdos musicais com teor afetivo ambíguo.
Isso sugere que as pessoas podem integrar informações textuais fornecidas antes de uma experiência estético-musical em seu processamento dos conteúdos expressivo-afetivos da música. Se a apresentação de informações com valência positiva ou negativa impacta a avaliação da expressividade da música, isso sugere que as experiências estéticas com a música vão muito além do conteúdo intrínseco da obra – ou seja, apenas os sons musicais.
Há uma relação íntima entre ambiguidade expressiva e apreciação estética, e este estudo revelou que as pessoas preferem e se emocionam mais com os trechos musicais quando são precedidos por uma descrição textual positiva ou negativa.
Embora alguns estudos tenham exaltado o valor da ambiguidade em obras de arte, essa característica parece não se estender à ambiguidade afetiva. Isso sugere que as pessoas valorizam experiências estéticas proporcionadas por trechos com teor afetivo mais saliente e inequívoco.
Se fosse o contrário, os resultados apontariam para uma experiência estética mais positiva com os trechos musicais precedidos por informações neutras. Isso revelaria que as pessoas valorizam a presença de ambiguidade expressiva (multiplicidade de significados possíveis) em experiências estéticas com a música. No entanto, para nenhuma das categorias investigadas neste estudo foram preferidos os trechos ambíguos.
Uso prático
Tudo o que você fala sobre sua música pode modificar a forma com que seus ouvintes vão interpretar as suas composições!
Qualquer material associado a sua música vai ser absorvido inconscientemente pelo ouvinte e vai modificar a escuta da sua música. Principalmente as informações sobre a sua intenção expressiva e emocional com uma música (ou álbum)
Existem outros estudos que mostram isso, até fatos da biografia de um compositor ou se é profissional ou amador modificam a escuta.
Portanto, tenha muito cuidado ao dar entrevistas, participar de podcasts, fazer postagens nas redes sociais e até mesmo conversas casuais.
E claro, mais cuidado ainda com os conteúdos diretamente ligados a sua música, como encartes de CDs, LPs ou DVDs, descrições do YouTube ou outras plataforma de streaming (bio do Spotify, Deezer) e notas de programa de concertos e shows.
Faça músicas com teor afetivo evidente e específico, desta forma há uma chance maior das pessoas se conectarem e gostarem da sua música (fuja de músicas “sem sal” [não sabe se tá doce, amargo, azedo… então defina] “não fede e nem cheira”)
Use o título e as descrições para ajudar a definir o caráter afetivo da sua música
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Referências:
MARGULIS, E. H.; LEVINE, W. H.; SIMCHY-GROSS, R.; KROGER, C. Expressive intent, ambiguity, and aesthetic experiences of music and poetry. PLoS ONE, 12(7), e0179145, 2017.
Schellenberg EG, Peretz I, Vieillard S. Liking for happy – and sad -sounding music: Effects of exposure. Cogn Emot. 22: 218–237, 2008.