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O TÍTULO DA MÚSICA IMPORTA MUITO MAIS DO QUE PODEMOS IMAGINAR
Imagine uma exposição de arte onde quatro pinturas vermelhas idênticas são colocadas uma ao lado da outra. A única diferença entre elas é que são apresentadas com títulos diferentes.
(1) “Os israelitas cruzando o Mar Vermelho”
(2) “Banho de Sangue”
(3) “O Quadrado Vermelho”
(4) “Alcançando o Nirvana”
Os visitantes desta exposição perceberiam e apreciariam essas pinturas idênticas de maneiras diferentes, influenciados apenas pelos títulos e resultando em diferentes julgamentos estéticos.
É como diz o filósofo e crítico de arte Arthur Danto, “Um título é mais do que um nome: geralmente é uma orientação para a interpretação ou a leitura de uma obra”.
O TÍTULO INFLUENCIA A MÚSICA – E A CIÊNCIA PROVA
A influência dos títulos na apreciação e avaliação da arte tem sido amplamente estudada no mundo das artes visuais, mas neste estudo que vamos ver hoje é examinado até que ponto os títulos apresentados impactam a estética e os julgamentos de valor da música.
Assim, o presente estudo investiga os efeitos de títulos e nomes de artistas na avaliação e experiência estética da música.
Apresentar música com diferentes tipos de informações explícitas, como textos, rótulos e legendas, tem um impacto significativo nas avaliações de música. Quando apresentadas com música, informações explícitas podem intensificar a emotividade da música, aumentar a atenção e a compreensão das apresentações musicais e alterar avaliações de música dos ouvintes em diferentes dimensões de julgamento subjetivo (por exemplo, gosto e qualidade musical).
O ARTIGO SOBRE TÍTULOS QUE VEREMOS
O nome traduzido do artigo é: Nomes e títulos importam: o impacto da Fluência Linguística e da Heurística do Afeto sobre julgamentos estéticos e de valor da música. (ANGLADA-TORT, M., STEFFENS, J.; MÜLLENSIEFEN, D. 2019)
Ao manipular as propriedades linguísticas de nomes de artistas e títulos, o presente estudo fez uso (e testou) dois princípios heurísticos que desempenham um papel crucial no julgamento humano e na tomada de decisão, a saber, a fluência do processamento e a heurística do afeto.
Cada uma dessas heurísticas foi testada em um experimento separado do outro.
Mas afinal, o que são heurísticas?
Heurísticas são atalhos mentais que usamos para economizar tempo e energia quando precisamos emitir julgamentos ou tomar decisões. Elas costumam nos ajudar bastante, mas às vezes um atalho que economiza tempo pode te levar para o caminho errado.
Experimento 1
Vamos primeiro falar sobre o experimento que testou a Fluência de Processamento.
Essa heurística refere-se à tendência humana de avaliar informações fáceis de processar de forma mais positiva do que informações semelhantes, mas mais difíceis de processar. Estudos demonstraram que estímulos fáceis de processar são considerados mais verdadeiros, famosos, agradáveis e familiares do que estímulos semelhantes, mas menos fluentes.
E isso vale para a linguagem também, ou seja, para as palavras que lemos e escutamos. Neste caso, a heurística se chama fluência linguística. Palavras fáceis de entender são fluentes e as difíceis disfluentes (não fluentes)
Portanto, o Experimento 1 investigou se os julgamentos de valor e estéticos de uma música podem ser influenciados pela facilidade ou dificuldade de entender as palavras do título da música e o nome do artista.
A fluência linguística de títulos e nomes dos artistas foi manipulada utilizando nomes turcos: na condição fluente, os títulos e nomes de artistas eram fáceis de pronunciar (por exemplo, Dermod de Artan), enquanto na condição disfluente os nomes eram difíceis de pronunciar (por exemplo, Taahhut de Aklale). Esses nomes foram retirados de um estudo anterior que testou e determinou quais eram percebidos como fluentes ou disfluentes.
O uso de nomes turcos também ajudou a tornar menos óbvia a manipulação da fluência linguística, já que consciência da manipulação da fluência provavelmente é menor ao usar o turco do que ao usar nomes em inglês, especialmente quando os participantes são monolíngues (falantes de inglês).
Foram selecionados oito trechos de 15 segundos de música que não haviam sido divulgados publicamente.
Os participantes avaliaram cada trecho de música usando seis escalas de classificação.
Três escalas destinaram-se a medir as propriedades estéticas da música:
(1) gostar da música, numa escala de 1 (desgostei fortemente) a 7 (gostei fortemente);
(2) expressividade emocional, numa escala de 1 (muito ruim) a 7 (muito bom);
(3) qualidade musical, em uma escala de 1 (muito ruim) a 7 (muito boa).
Enquanto as outras três destinavam-se a medir o valor subjetivo da música utilizando uma escala de 1 (muito improvável) a 7 (muito provável):
(4) qual a probabilidade de a “música” ter sucesso comercial;
(5) qual a probabilidade dos participantes assistirem a um show do artista;
(6) qual a probabilidade dos participantes recomendarem a “música” a um amigo.
Resultados
Os resultados do Experimento 1 mostraram que os mesmos trechos musicais foram avaliados mais positivamente quando apresentados com nomes fáceis de pronunciar (fluentes) do que quando apresentados com nomes difíceis de pronunciar (disfluentes).
Ou seja, a fluência linguística de títulos e nomes de artistas teve impacto significativo nos julgamentos estéticos e de valor da música. A fluência dá origem a sentimentos de familiaridade e uma resposta afetiva positiva que resulta em julgamentos mais positivos.
Experimento 2
No segundo experimento foi testada a Heurística do Afeto
Heurística do Afeto refere-se à influência que sentimentos bons e ruins associados a um estímulo causam na tomada de decisões e nos julgamentos.
Pesquisa em psicolinguística demonstraram que palavras com conteúdo emocional (por exemplo, amor ou morte) são processadas de maneira diferente das palavras neutras (por exemplo, janela). E, além disso, palavras emocionais são mais fáceis de serem lembradas do que palavras neutras.
O Experimento 2 investigou se os julgamentos de valor e estéticos de uma música podem ser manipulados se os seus títulos tiverem diferenças em seu conteúdo emocional. Portanto, os participantes ouviram e avaliaram trechos musicais apresentados com títulos positivos (por exemplo, Beijo), negativos (por exemplo, Suicídio) e neutros (por exemplo, Esfera).
Também foram investigadas as diferenças nos julgamentos quando a música foi apresentada com e sem títulos utilizando estímulos musicais e dados do trabalho de um trabalho anterior que utilizou as mesmas músicas (Herzog et al., 2017).
Os participantes receberam os trechos musicais e seus títulos e, para garantir que os participantes lessem o título, eles foram solicitados a escrever o título em uma caixa de texto.
Os participantes avaliaram cada trecho de música usando 11 escalas de classificação divididas em três categorias: valor estético, valor pessoal e valor comercial.
Valor Estético
Na categoria Valor Estético foram utilizadas cinco escalas de classificação selecionadas de um estudo anterior (Herzog et al., 2017) onde os participantes avaliaram os mesmos trechos musicais apresentados sem títulos. Estas cinco escalas permitiram comparar as avaliações musicais na presença e ausência de títulos.
(1) avaliaram se gostaram da música de forma geral, utilizando uma escala de 1 (nada) a 6 (muito);
Em seguida avaliaram quão bem alguns atributos se adequavam ao trecho musical – utilizando escalas de 1 (muito mal) a 6 (muito bem):
(2) quão belo é o trecho,
(3) quão feliz,
(4) quão inspirador
(5) quão autêntico.
Valor Pessoal
Nas avaliações destinadas a medir o Valor Pessoal os participantes tiveram que avaliar o grau de concordância com três afirmações em uma escala de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente):
(1) “Quero saber mais sobre o artista da música”;
(2) “Eu compartilharia a música com meus amigos”;
(3) “Eu quero ver o artista da música tocar ao vivo”.
Valor Comercial
O Valor Comercial foi avaliado usando a mesma escala de 7 pontos de concordância-discordância. Os participantes tiveram que avaliar o grau de concordância com três afirmações:
(1) “A música tem potencial para sucesso comercial”;
(2) “Acho que a música é de um artista de sucesso”;
(3) “Acho que muitas pessoas gostariam dessa música”.
Resultados
Os resultados do Experimento 2 demonstram que, de forma geral, o conteúdo emocional de títulos influenciou os julgamentos de valor e estéticos da música. Essas descobertas confirmam a existência de uma heurística de afeto em avaliações estéticas da música.
Isso é muito importante: o teor emocional do título da música influencia a maneira com que essa música será entendida pelo ouvinte!
E tem mais! Ao final dos dois experimentos, os participantes foram questionados se achavam que foram afetados pelos nomes apresentados com a música, e adivinha? A maioria achava que NÃO era afetado! Ou seja, esse efeito ocorre inconscientemente nos ouvintes.
Em relação à comparação da música apresentada com e sem títulos, os resultados revelaram que os participantes gostaram significativamente mais da música quando ela foi apresentada com títulos do que na ausência deles, independentemente do conteúdo emocional do título.
Esse achado está de acordo com estudos anteriores que mostram que as mesmas obras de arte apresentadas com títulos são geralmente avaliadas de forma mais positiva do que quando apresentadas sem títulos – e que é compatível com a hipótese “fazer sentido traz prazer”, que sugere que os títulos aumentam as respostas emocionais positivas à arte ao torná-la mais compreensível.
Aplicações práticas
Como vimos, o título da música importa muito!
Você que é compositor, tenha em mente três coisas:
1 – Tomar cuidado com o grau de fluência das palavras dos títulos das suas músicas e do seu nome artístico
2 – Tomar cuidado com o teor emocional das palavras dos títulos das suas músicas
3 – Sempre colocar títulos criativos nas suas músicas, porque isso faz toda a diferença
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